PENSANDO HISTÓRIA: FASCISMO
Fascismo é uma
palavra italiana derivada da expressão latina “fascio”. Os "fascios"
eram símbolos romanos, isto mesmo, eram da época do Império Romano, e
representavam a união de vários frágeis gravetos que, uma vez, amarrados
formavam um forte feixe... que ornamentado com um machado... torna-se um
símbolo de força e do poder da união.
(...)
Essa era a explicação padrão... digo era, porque
não pretendo continuar com uma explanação tradicional ou padronizada sobre este
assunto.
E o motivo desta decisão está no fato de eu
acreditar que o tema “fascismo” é, obviamente, um assunto muito polêmico e que,
por esse motivo, exige um posicionamento. Pessoalmente (e também teoricamente)
não acredito que seja possível falar de fascismo sem um claro posicionamento a
respeito do assunto.
O fascismo é, sem que exista qualquer dúvida de
minha parte, a ideologia – e também a prática política – mais nociva e
repulsiva que existe ou já existiu. O fascismo é tão terrível e abjeto, que
mesmo na ficção, é o vilão de muitas histórias... O que uma breve pesquisa em
obras de literatura, cinema e quadrinhos pode facilmente confirmar. Sem meias
palavras, acredito que esta ideologia – ou prática política – não só é
completamente desprezível, como deve ser combatida.
Agora que meu posicionamento a respeito do tema
está esclarecido... o que pretendo aqui não é somente explicar (ou tentar
explicar) o que é fascismo, mas, também, compreender como... Mesmo após os
desdobramentos da Segunda Guerra Mundial, mesmo tanto tempo tendo se passado...
Como... ainda hoje, o fascismo pode ser tão atraente para tantas pessoas.
Segundo Walter C.
Langer
“O poder e a
fascinação de Hitler ao discursar residem quase por completo em sua capacidade
de sentir o que uma dada plateia queria ouvir e, então, manipular seu tema de
tal maneira que ele despertava as emoções da multidão”. (“A Mente de Adolf
Hitler”, página 40).
Mas será que o fascismo se baseia na manipulação
das massas? – como enfatiza o autor... ou as pessoas sabem exatamente no que
estão se envolvendo?
Segundo o
dicionário Michaelis, fascismo é um:
“Sistema ou regime
político e filosófico, antiliberal, imperialista e antidemocrático,
centrado em um governo de caráter autoritário, representado pela existência de um partido único e pela figura de um ditador, fundado
numa ideologia de exaltação dos valores da raça e da nação em detrimento do
individualismo”.
A
partir desta definição podemos afirmar que um regime fascista é, antes de mais
nada, autoritário, antidemocrático, excludente e elitista.
Contudo
isso, não está aí seu principal problema, já que tantas outras formas de
governo se amparam em regimes autoritários e ditatorial para se impor.
Edda
Saccomani aponta que uma das principais características de um regime fascista
está o “aniquilamento das oposições, mediante o uso da violência e do terror
[e] por um aparelho de propaganda baseado no controle das informações e dos
meios de comunicação de massa” (in: Norberto Bobbio, “Dicionário de
Política”, página 466).
Isto é, trata-se de um regime que se fundamenta na
perseguição e na tentativa de destruir todos os seus oponentes. E, que para
justificar suas ações faz uso do controle da informação – incluindo a
comunicação via redes sociais.
Já Umberto Eco afirmou que no fascismo “o
irracionalismo depende também do culto da ação pela ação. A ação é bela em si
e, portanto, deve ser realizada antes de e sem nenhuma reflexão. Pensar é uma
forma de castração. Por isso, a cultura é suspeita na medida em que é
identificada com atitudes críticas”. (Umberto Eco, “O Fascismo Eterno”).
A rejeição ao pensamento reflexivo e crítico
responde, ao menos em parte, porque fascistas são tão avessos a determinadas
vertentes artísticas e culturais – especialmente aquelas que não compreendem –
e, também, porque são ativos combatentes do pensamento racional e, claro,
incluindo aí, o conhecimento científico.
Entretanto, apesar de se oporem – ou serem
negacionistas – a respeito de muitos avanços científicos, eles procuram criar
sua própria “ciência”, baseando-se não em evidências, mas naquilo que colabore
com sua ideologia. Ou seja, apoiam pesquisas que confirmem aquilo que já de
antemão acreditam, por outro lado, tentam destruir tudo aquilo que coloque em
risco suas crenças.
Quando analisou o nazifascismo alemão, a
escritora Hannah Arendt afirmou que regimes como aquele produzem “pessoas
incapazes de pensar do ponto de vista de outra [pessoa]”. (“Relatório do
julgamento de Adolf Eichmann” de 1963).
A
associação entre a rejeição ao diferente e a incapacidade de entender o ponto
de vista de outra pessoa tornam adeptos do fascismo pessoas intolerantes com
qualquer outra forma de pensar, especialmente, com ideias que se oponham às
suas crenças.
Creio
que aqui está a pior face do fascismo: a intolerância e, consequentemente, toda
a violência – física ou moral – que despejam para com todos aqueles que de
alguma forma não fazem parte de seu grupo.
É
aqui que começam a usar sua pseudo-ciência para justificar seus preconceitos e
suas ações, seu racismo, sua xenofobia, sua misoginia e todo o ódio que sentem
por grupos que identificam como rivais.
Segundo Richard Matheson, autor do clássico “Eu
Sou a Lenda”:
“normalidade é um conceito de maioria, um padrão de
muitos e não o padrão de apenas um homem”.
Fascistas tentam criar um novo “normal”.
As bolhas ideológicas criadas
pelas redes sociais possibilitaram que parte da sociedade – principalmente
aquela – inconformada pelos avanços da sociedade, ou pelo pejorativamente
denominado politicamente correto, encontrassem outras pessoas com
ideias reacionárias sobre a sociedade.
Nestes espaços, diferentes formas de preconceitos,
racismo e outras questões condenáveis, se tornaram aceitáveis e, por incrível
que possa parecer, se tornaram a “nova” normalidade, ao menos
para essas pessoas.
Creio que neste momento fique mais
claro a questão da manipulação – citada no início do vídeo...
Pois pessoalmente não acredito que o fascismo ocorra por meio de
manipulação. Isso até pode acontecer com a
grande massa que, sem ter total consciência da realidade, apoie um regime
fascista. Fora isso, acredito que o fascismo seja muito mais do que uma
manipulação, acredito que as pessoas se convertam à ideologia
fascista. E é por isso que ela é tão
perigosa.
Quando a conversão acontece, essas ideias
passam a fazer parte das vidas dessas pessoas, tornam-se uma medida para todas
as suas crenças. Por isso, um fascista torna-se um fanático.
E é aí que o
perigo real começa.
Pois os que
conscientemente se convertem ao fascismo se tornam os mais perigosos, os mais
violentos, os mais intolerantes e os mais cegos.
E o mais assustador de tudo isso é que hoje muitos
já fizeram sua escolha pelo fascismo...
Contudo, acredito que vai chegar o momento em que o perigo desta ideologia vai ficar claro
para todos, não haverá dúvidas sobre sua existência e influência. As pessoas
irão entender o que está ocorrendo. Irão entender o que todas essas ideias
significam e o perigo que representam.
Não sei se vai demorar para as pessoas acordarem
para o perigo que é o crescimento do fascismo em nossa sociedade. Mas quando
isso acontecer, a sociedade brasileira terá
de tomar uma decisão: desmascarar essa ideologia nefasta ou conscientemente
aceitá-la como o 'novo' normal.
Se a segunda opção for a escolhida, a História tem
alguns exemplos de qual será nosso destino.
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