domingo, 21 de novembro de 2021

O que é Religião | Como a religião surgiu


 O QUE É RELIGIÃO | COMO A RELIGIÃO SURGIU

Existe uma máxima popular que diz que religião, política e futebol não devem ser discutidos... não sei qual a sua opinião sobre isso, mas, pessoalmente, penso exatamente o contrário... Afinal, estes assuntos são os que mais rendem discussões nas rodinhas de amigos... especialmente quando o tema é a religião.

Segundo o último Censo do IBGE, apenas 8% da população brasileira afirma não ter uma religião, isto significa que os outros 92% - a ampla maioria da população – afirma ter algum tipo de crença religiosa. Se estes dados estiverem corretos (e eles foram coletados no último censo demográfico), a religião é, sim, um assunto extremamente importante e precisa não só ser discutido nas rodas de amigos... mas também ser estudado, debatido, analisado e, principalmente, compreendido...

Mas... é claro... não podemos ser levianos ao tratar de um assunto que (como vivos) é tão importante em nossa sociedade – literalmente um assunto “sagrado”. Pois independente da religiosidade de cada um... o respeito às diferenças de crenças se faz bastante necessário... até porque – como vimos – a questão da religião é muito mais importante em nossa sociedade do que se pode imaginar.

Dito isso, tenho por objetivo neste vídeo tentar conceituar o que é e como surgiu a religião... mas, claro, como já afirmei, respeitando os diferentes credos.

Por isso, para começar, é importante destacar o significado etimológico do termo “religião”.

Bom... Religião é uma palavra com origem na expressão latina “religio” e significa “religar” ou “religar-se”. A expressão pode ser interpretada como uma busca humana por se conectar (ou reconectar) a um Deus ou a uma divindade.

Não se sabe exatamente onde nem quando a primeira manifestação religiosa ocorreu... mas é certo que deste os tempos mais remotos os seres humanos sempre cultivaram algum tipo de experiência transcendental e religiosa.

Alguns especialistas no assunto defendem que – desde a Pré-História – a religião está entre as principais práticas sociais humanas.

A busca por explicar o incompreendido... como alguns dos fenômenos naturais... como a chuva, uma tempestade ou até a ocorrência de um eclipse. Podem ter gerado a primeira busca religiosa. Afinal, em tempos onde a ciência inexistia, explicações sobrenaturais, isto é, que ultrapassam as leis naturais, eram usadas para explicar o que não era compreendido.

A morte certamente foi outro catalizador para a experiência religiosa. Segundo alguns estudiosos... a religião pode ter surgido a partir do momento em que os humanos começaram a enterrar seus mortos – desta forma, os ritos fúnebres bem podem ter representado as primeiras celebrações de cunho religioso. Curiosamente alguns hominídeos também enterravam seus entes perdidos, se esta tese estiver correta, a religião pode ser ainda anterior ao surgimento dos homo sapiens.

Mas cabe destacar que a religião é uma característica comum a todos os povos que já habitaram a Terra. Por sinal, até hoje a arqueologia não encontrou vestígios de um povo sem algum tipo de culto religioso. Mesmo assim, não é possível afirmar quando e onde a religião possa ter surgido.

Assim, como um fenômeno natural à sociedade humana, as religiões. Pouco a pouco foram sendo organizadas em um conjunto de sistemas e dogmas que influenciaram as diferentes culturas humanas em todo o mundo.

Isso se intensificou quando os humanos deixarem a condição de nômades para se estabelecerem em aldeias, pois a partir daí passaram a hierarquizar sua estrutura religiosa, pois, nas aldeias e depois nas cidades, foram construídos templos, espaços que necessitavam de manutenção e, logicamente, de sacerdotes fixos.

Como forma de preservarem suas crenças, desde os primórdios da escrita, os seres humanos procuraram registrar suas leis e normas religiosas (isto é, seus dogmas) em Livros Sagrados, cada religião tendo a sua própria Escritura.

Conforme os humanos foram se organizando em civilizações, as religiões foram crescendo em influência. Nascendo assim, a religião institucionalizada (e regulamentada) como conhecemos hoje.

Também é importante destacar que conforme as sociedades humanas foram se desenvolvendo, a religião foi assumindo os valores culturais e as crenças das sociedades as quais faziam parte.

Neste ponto é importante também estabelecer a diferença que existe entre religião, espiritualidade e fé.

Pois, se como vimos até aqui, a religião é uma busca humana por se reconectar ao criador.

A espiritualidade pode ser entendida como as atitudes e práticas que levam ao transcendente. Enquanto a religiosidade é encarada como um fervor em cumprir ritos e acreditar em dogmas, a espiritualidade é uma busca pelo bem estar interior dentro do amor professado por Deus. Desta forma, a espiritualidade está intimamente ligada à religião, mas claro, não dependendo dela, já que uma pessoa pode ser elevadamente espiritualizada, mesmo sem professar uma religião oficial.

Já a fé pode ser entendida como um sentimento de total crença em algo ou alguém. Desta forma, ter fé implica numa atitude contrária à dúvida e está ligada à confiança. Da mesma forma que a espiritualidade, fé e religião estão intimamente ligadas, entretanto, uma pessoa pode ter muita fé, inclusive espiritualmente falando, mas não seguir uma religião em particular.

Deste modo podemos afirmar que a diferença entre religião, espiritualidade e fé, é que se as duas últimas estão ligadas a uma aproximação pessoal entre o indivíduo e o mundo espiritual, a religião está mais para uma instituição coletiva que é essencialmente uma construção humana. Isto é, as religiões são organizações criadas pelos seres humanos com o objetivo de canalizar a fé e a espiritualidade de seus membros para um deus ou uma divindade em especial.

Contudo é importante destacar que apesar desta afirmação deixar bastante claro que a religião é uma construção humana, isso não invalida a existência de um mundo espiritual ou de um deus. Na verdade, é exatamente o oposto, já que foi a busca humana por compreender o mundo espiritual que nos levou, como humanos, a organizar as religiões que hoje conhecemos.

Desta forma, as religiões podem ser entendidas como instituições cujo objetivo é ensinar os caminhos para que seus seguidores alcancem seus objetivos espirituais. Em outras palavras, as religiões não são um fim em si mesmas, mas um caminho para nos guiar em nossa jornada espiritual.

Entretanto, infelizmente, nem todo líder religioso pensa desta forma...

Talvez seja por esse motivo que, ao longo da história da humanidade, tantas religiões tenham surgido.

 

MARCOS FABER

Professor e Historiador

quinta-feira, 18 de março de 2021

Mídia: Propaganda Política e Manipulação de Noam Chomsky

 

“MÍDIA: PROPAGANDA POLÍTICA E MANIPULAÇÃO” DE NOAM CHOMSKY


Existem dois diferentes conceitos para democracia “uma delas considera que uma sociedade democrática é aquela que em que o povo dispõe de condições de participar de maneira significativa na condução de seus assuntos pessoais e na qual os canais de informação são acessíveis e livres”, a outra versão conceitua que “democracia [é um sistema] que considera que o povo deve ser impedido de conduzir seus assuntos pessoais e os canais de informação devem ser estreita e rigidamente controlados”. Para Chomsky esta última é a concepção de democracia que predomina no mundo atual.


Noam Chomsky é considerados por muitos o maior pensador vivo da atualidade. Ativo politicamente desde os anos 60, Chomsky já escreveu dezenas de livros. Mantendo-se muito influente no meio acadêmico.

Apesar de ter alcançado renome por seus estudos em linguística, sua obra ultrapassa qualquer catalogação, tendo influenciado praticamente todas as áreas das ciências humanas, sociais e comunicação.

 Em "Mídia: Propaganda Política e Manipulação" Chomsky analisa o papel que a mídia e a propaganda política (seja ela governamental ou independente) têm desempenhado na sociedade atual.

Para o autor, como vimos anteriormente, vivemos em uma democracia onde a população é excluída da participação política e, onde, os canais de informação são rigidamente controlados. Segundo Noam Chomsky, isso ocorre, principalmente, para manter a população domesticada e dócil. Se a massa popular for inofensiva, não representará ameaça aos interesses dos que estão no poder (seja ele político ou econômico).

Ao questionar o modelo atual de democracia, o autor afirma que vivemos em meio a uma DEMOCRACIA DE ESPECTADORES, onde a grande maioria da população assiste passivamente o que acontece nas esferas de poder. Para confirmar sua tese, Chomsky cita o jornalista Walter Lippmann como o principal responsável por teorizar a respeito do que ficou conhecido como a “construção do consenso”. Lippmann defendia o uso de técnicas de manipulação da informação como forma de obter o consenso. Desta forma, para obter a concordância do povo – principalmente a respeito de assuntos sobre os quais a maior parte da população não está de acordo – é preciso manipular os cidadãos comuns por meio de técnicas de propaganda política.

Chomsky chama atenção que isso era necessário, pois para Walter Lippmann “Os interesses comuns escapam completamente da opinião pública e só podem ser compreendidos e administrados por uma ‘classe especializada’ de ‘homens respeitáveis’ que são suficientemente inteligentes para entender como as coisas funcionam”.

 Chomsky chama atenção que os adeptos deste modelo – amplamente aplicado nos países ocidentais (incluindo o Brasil) – acreditam que somente uma pequena elite é capaz de entender os interesses gerais. Por isso, enxergam a sociedade como dividida em duas diferentes “classes de cidadãos”: a “classe especializada” e o “rebanho desorientado”. Se os primeiros têm a obrigação de assumir um papel ativo na gestão dos interesses públicos, os segundos, os integrantes do “rebanho desorientado”, que apesar de formarem a ampla maioria da população, precisam ser controlados e adestrados.

A função do “rebanho desorientado” é a de “espectador”, por esse motivo, precisam ser afastados das decisões públicas. Mesmo assim, como se trata de uma democracia, esse rebanho é convocado de vez em quando para transferir seu poder de decisão à classe especializada, e isso ocorre durante as eleições.

O princípio moral por trás disso é que a maioria da população seria estúpida demais para compreender o que é melhor para si e para o coletivo.

Portanto, cabe as classes especializadas convencer a população a respeito do que é “melhor” para elas...

Embora pareça que essas ideias possam ser aplicadas apenas por governos autoritários, para, Chomsky, na verdade, é o contrário... já que esse tipo de manipulação é muito mais comum em regimes democráticos.

Entretanto, os governos não agem sozinhos... afinal, a mídia independente formada pelos principais veículos de comunicação de um país (como a CNN e a Fox News nos Estados Unidos ou a Globo e a Revista Veja no Brasil) também fazem parte deste processo... já que invariavelmente defendem os mesmos interesses...

Uma vez tendo o apoio da opinião pública e, por consequência, da população, as elites políticas e econômicas têm liberdade para defenderem seus próprios interesses... como se estes representassem os interesses da maioria.

Chomsky destaca que “a propaganda política está para uma democracia assim como o porrete está para um Estado totalitário”.

Para finalizar é importante ressaltar que, ao longo de toda a obra, o autor ilustra suas teses com citações de eventos reais ocorridos ao longo da História dos Estados Unidos e que comprovam suas ideias.

Mas mesmo que enfatize fatos ocorridos em sua terra natal, Chomsky deixa bastante claro que o uso da mídia e da propaganda como ferramentas de manipulação política são práticas adotadas em todo o mundo... sendo que, obviamente, quanto mais frágil é uma democracia, mais suscetível sua população é de sofrer com esse mal.

 

E aí? Ficou curioso... pois apesar de ser uma obra bastante curta – são pouco mais de 100 páginas – e de leitura extremamente fácil... MÍDIA: PROPAGANDA POLÍTICA E MANIPULAÇÃO é um livro bastante profundo, sendo aconselhado para todos os que se interessam por saber mais a respeito das engrenagens do poder.


sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

BREVÍSSIMA RESENHA DE “A ELITE DO ATRASO” DE JESSÉ SOUZA

 


BREVÍSSIMA RESENHA DE “A ELITE DO ATRASO” DE JESSÉ SOUZA


“Quem controla a produção de ideias dominantes controla o mundo”. Por isso, “as ideias dominantes são sempre produto das elites” (página 25).


Desta forma, quem está no poder econômico precisa “Se apropriar da produção de ideias [pois assim pode] interpretar e justificar tudo o que acontece no mundo de acordo com seus [próprios] interesses” (página 25).

Estas são citações selecionadas do professor Jessé Souza e fazem parte da obra “A Elite do Atraso”, livro publicado originalmente em 2017 (e atualizado em 2019 – edição que inclui o pós-eleição de Bolsonaro).

Na obra, o autor faz uma dura crítica à construção da imagem negativa que o brasileiro tem de si mesmo, apontando quais são os reflexos desta autoimagem na formação social do Brasil atual.

Por esse motivo, Jessé Souza critica duramente as teses defendidas por autores como Gilberto Freyre, o responsável pela obra “Casa-Grande & Senzala”, Sérgio Buarque de Holanda, e seu “Raízes do Brasil”, e Raymundo Faoro, que escreveu “Os Donos do Poder”, esses pesquisadores foram, segundo Jessé, os responsáveis por moldar as noções de civilidade e humanidade em nosso país.

Pois, as interpretações destes autores clássicos criaram uma imagem do brasileiro como um ser inferior, principalmente, se comparado ao europeu e ao norte-americano. Esta ideia de inferioridade, por sua vez, nos fez (e ainda faz) aceitar o domínio cultural, político e econômico que estes povos exercem sobre nós, e que ainda, para piorar, nos tornam dependentes deste mesmo domínio.

Pois para o autor de “A Elite do Atraso”, as ideias descritas nestas obras.... forjou a imagem do “brasileiro” para nós mesmos como um ser “dócil” e “cordial”, como uma espécie de “bom malandro” – percepção, aliás, que pouco a pouco foi aperfeiçoada no “jeitinho brasileiro” – notoriamente uma imagem associada à malandragem e à corrupção.

Grande crítico da ideia do brasileiro como o “homem emotivo” e “cordial” e, principalmente, das teses de Raymundo Faoro, amplamente difundidas (inclusive) nos meios acadêmicos sobre o “Estado patrimonialista”... Jessé Souza afirma que as ideias defendidas por esses autores foram responsáveis por construírem “a ideia do brasileiro como [o] vira-latas da História, sendo a imagem invertida no espelho do protestantismo americano [este sim] transformado em herói” (ver páginas 30-32).

Desta forma, nós – brasileiros – seríamos aqueles que não sabem governar... não sabendo o que é bom para o próprio país... Por esse motivo, acabamos Aceitando bem a premissa de que precisamos ser “dominados” e “controlados”.

Mas, claro, por sua vez, as elites nacionais ... que segundo elas mesmas, descendem de europeus (não por acaso trata-se de uma elite branca e rica)... não se considera parte do povo (que por eles é) inferiorizado... por isso, acreditam serem os únicos capazes de governar... Desta forma toda vez que sentem seu poder ameaçado... saem à caça de seus opositores – pois toda oposição ao modelo defendido por esta elite é formada, segundo eles, por corruptos - basta ver o que aconteceu com todos os presidentes que tentaram ampliar o acesso à renda e à educação, ou seja, que tentaram diminuir os “ganhos” e privilégios desta elite.

É como se as elites nacionais fossem os colonizadores e exploradores do próprio povo (já que, claro, não se enxergam como parte deste povo). Por isso, precisam que a grande massa da população se sinta inferiorizada e incapaz de se autogovernar.

Para convencer a maior parte da população de que ela é SIM inferior... é preciso construir e difundir a ideia de que somos um povo imcapaz... De acordo com essas ideias, nós seríamos “inferiores não só intelectualmente, mas, tão ou mais importante, também [seríamos] inferiores moralmente. [Por isso,] é melhor entregar nossas riquezas a quem sabe melhor utilizá-las, já que os outros são honestos de berço, enquanto nós [o povo brasileiro] seríamos corruptos de berço” (página 23-24).

Outra questão de extrema importância na obra é a desconstrução da ideia de que o Brasil é um país tolerante e livre do racismo.

Pois para o autor, as raízes de uma sociedade escravocrata ainda estão presentes no DNA que forma a mentalidade das elites nacionais. Pois estas elites, enxergam todos aqueles que estão abaixo dela como uma espécie de sub-gente... como não iguais... pois entendem a sociedade brasileira como uma sociedade formada por senhores e escravos – proprietários e despossuídos.

“A colonização da elite brasileira mais mesquinha sobre toda a população só foi e é ainda possível pelo uso, contra a própria população indefesa, de um racismo travestido em culturalismo que possibilita a legitimação para todo ataque contra qualquer governo popular” (página 24).

Para o autor, todo racismo, inclusive o culturalismo racista dominante no mundo inteiro, precisa escravizar o oprimido no seu espírito e não apenas no seu corpo “Colonizar o espírito e as ideias de alguém é o primeiro passo para controlar seu corpo e seu bolso” (página 24).

E é ai, segundo ele, que entram os intelectuais modernos (que amparados nas teorias “selecionadas” de autores clássicos como Freire, Sérgio Buarque e Faoro) “esclarecem” para a grade massa “o mundo como ele é”, mas que na verdade servem para “retirar das pessoas toda compreensão e toda a defesa possível” (página 24).

Entretanto, claro, esses intelectuais modernos (e midiáticos) são reprodutores (espécie de porta vozes) dos interesses das elites das quais eles mesmos fazem parte.

Mesmo assim, a dominação (exercida pelas elites nacionais) precisa de legitimação científica. Afinal, “é a ciência hoje, mais que a religião, quem decide o que é verdadeiro ou falso no mundo” (página 25). Por esse motivo, toda a informação gerada pelos jornais e telejornais procuram legitimar seu discurso (presente em suas “reportagens”) em “especialistas” (ou então em trechos selecionados de documentos) desde que, claro, colaborem com suas opiniões. Pois assim, não podem ser confrontados por nenhuma outra opinião que possa contradizê-los.

 Ficou curioso... pois este é só um breve esboço do que é apresentado em ”A Elite do Atraso”, pois na obra, Jessé Souza aprofunda todas essas discussões, sempre utilizando de uma linguagem bastante clara e direta, “A Elite do Atraso” é um livro – que não se propõe somente ao meio acadêmico – mas, principalmente, foi escrito para ser lido por qualquer pessoa interessada em compreender as origem do desenvolvimento (ou seria subdesenvolvimento) social, cultural e econômico de nosso país.

Talvez por esse motivo, “A Elite do Atraso” tenha se tornado um grande best-seller nacional, gerado uma continuação “A Classe Média no Espelho”, onde, desta vez, o autor foca suas atenções nas classes médias nacionais.