As Manifestações que estão acontecendo no Brasil
tem nos mostrado uma série de novos símbolos com os quais muitos de nós não
estão acostumados, um deles é a máscara de “V for Vendeta”.
V for Vendeta é uma das mais celebradas graphic novels já
escritas. Nela, Alan Moore criou um dos personagens mais emblemáticos das
Histórias em Quadrinhos: “V”. Um anti-heroi sem identidade que cobre o rosto
com uma máscara de Guy Fawkes (rebelde preso e condenado à morte após tentativa
frustrada de explodir o Parlamento inglês, em 1605). A referência a Fawkes não
é casual, pois o objetivo de “V” era o mesmo.
Na trama, a Inglaterra, imersa num passado
alternativo, vive um regime totalitário onde todas as instituições públicas e
os meios de comunicação estão nas mãos de um mesmo grupo, o Partido Fogo Nórdico.
Numa sociedade onde as informações são manipuladas a população vive numa estado
de passividade como se tudo andasse muito bem nas terras britânicas.
E é neste cenário que “V” surge como uma voz pronta
a desmascarar o rígido sistema. Escrita entre 1982 e 1983 (lançado no
Brasil em 1989), a HQ logo se tornou um cult que, em 2006, tornou-se um
longa-metragem que alcançou igual sucesso de crítica e público.
Ontem à noite aconteceu uma das mais belas
manifestações públicas que Porto Alegre conheceu. E muitas máscaras de “V”
estavam lá. A marcha, que reuniu em torno de 40 mil pessoas, saiu da frente da
prefeitura, marchando até o Gazômetro de onde retornou via avenida Borges de
Medeiros para o centro da cidade, a manifestação transcorria pacificamente até
nos vermos encurralados pela polícia que bloqueava o caminho de volta ao
centro. Ficamos literalmente sem ter para onde ir.
O momento tenso só foi quebrado quando alguns
manifestantes mais exaltados (e vaiados pela maioria) correram com paus e
pedras em direção à polícia. Ai virou um caos. A polícia com escudos e armas de
bala de borracha partiu para cima de todo mundo, indistintamente atacou jovens,
pessoas com filhos e até idosos que se viam obrigados a correr das bombas (de
efeito moral e gás) que eram jogadas contra todos. O cenário era de guerra.
Estávamos acuados. O sentimento que tomou conta de
todos foi o de revolta contra a intolerância daquilo que parece ser a gestação
de Estado autoritário e intolerante que age contra seus cidadãos como se esses
fossem criminosos.
Hoje pela manhã, lendo aos jornais, ouvindo ao
rádio, assistindo à TV e, pior de tudo, lendo algumas das postagens do facebook
fiquei triste. Pois continuam nos criminalizando. Para alguns toda e qualquer
manifestação é demonizada. Mas o pior é que o discurso oficial, propagado pela
mídia tem afetado as pessoas comuns, aquela pelas quais nós estamos lutando.
Pois muitas dessas pessoas apenas estão reproduzindo o discurso
autoritário oficial.
E talvez esse seja nossa principal falha como
cidadãos brasileiros: não desenvolvermos
uma opinião crítica pessoal sobre os fatos, apenas compramos e reproduzimos uma
versão que nos parece conveniente. Nós brasileiros parecemos ter preguiça
de pensarmos sozinhos.
E isso me entristece profundamente. Espero que
minha tristeza passe. Sei que vai passar. Mas a verdade é que no momento estou
muito triste em ver nosso povo voltando para um estado de passividade, ao menos
é o que esta me parecendo. Espero sinceramente estar enganado, mas é a leitura
que tenho no momento.
Mas voltando ao filme...
No final da película, um dos líderes do Partido Fogo Nórdico
(partido totalitário que controla a Inglaterra) descarrega sua arma em “V” e
logo exclama “Por
que você não morre?” A resposta do mascarado é emblemática “ideias nunca morrem”.
Espero que tudo que presenciamos nestes últimos
dias em nosso país tenha servido para criar uma consciência coletiva de que o
Brasil precisa mudar. Não uma mudança paliativa, mas uma mudança séria nas
estruturas do poder. E que todos nós possamos entender que os que lutam por uma
Brasil melhor são cidadãos e não criminosos, como muitos querem que
pensemos.
Marcos Faber