terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Carta aos Gaúchos

Se você, caro leitor, não é gaúcho, pare a leitura agora, pois esta carta é endereçada somente aos pampeanos, entretanto, lembro a você, leitor, que não precisa nascer no Rio Grande para ser gaúcho, para ser gaudério o vivente tem que se considerar um. Se você é ou se considera um gaúcho continue a leitura.

Pois bem, gauchada, essa carta é um desabafo. Pois estou muito cansado de ouvir dizer que o Rio Grande do Sul é o melhor Estado do Brasil. Estou cansado de ouvir que somos os mais politizados, os mais cultos, os mais educados do Brasil.

Mas antes de continuar meu desabafo preciso deixar bem claro que amo o Rio Grande. Sou um apaixonado pelo meu Estado. E por isso mesmo questiono as afirmações citadas.

Se realmente somos os mais educados, como explicar o caos em nosso trânsito? E o que dizer dos resultados de nossas escolas e universidades nas provas nacionais?

Se somos os mais cultos do país, o que está acontecendo com os incentivos à cultura em nosso Estado? Os grupos de teatro têm deixado o Rio Grande. Muitas bandas de rock porto-alegrense estão sediadas em São Paulo.

E o que dizer de nossa cultura tradicionalista que, em minha opinião, está emperrada. Pois toda e qualquer novidade é, de forma intolerante, proibida.

Exaltamos que somos os mais politizados do país. Mas na prática estamos vivenciando um crescimento da alienação política, cada vez mais as pessoas estão se distanciando da participação político-ideológica-partidária. Nem de longe lembramos nossos antepassados que lutaram pela Legalidade ou pela República Farroupilha.

Na verdade estamos nos distanciando de quem um dia fomos. Hoje exaltamos uma realidade que não mais existe. Exaltamos um passado do qual nos afastamos faz algum tempo.

E é por esse motivo que escrevo esta carta desabafo. Pois ainda acredito que o Rio Grande poderá voltar a ser o Estado mais culto, mais politizado e mais educado do Brasil. Mas a realidade hoje infelizmente é outra.

Meu apelo é o mesmo de um antigo comercial de televisão que dizia “Comece agora, comece por você”. Vamos lá gauchada, vamos acordar deste estado de imobilidade anestésica, vamos retornar para a condição de que tanto nos orgulhamos de ter em nosso passado.
Marcos Faber
www.historialivre.com
marfaber@hotmail.com

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Quatro Vezes Você do Capital Inicial e a Corrupção Humana

   
Estava escutando a música “Quatro Vezes Você” da banda brasileira Capital Inicial, ao ouvir a música foi impossível não pensar naquelas coisas que eu faço somente quando não estou sendo vigiado, ou melhor, quando tenho a certeza de que não há alguém me vendo. Sabe..., coisas que nós fazemos somente em nossa intimidade, como os pensamentos que temos, mas que não podemos colocar para fora.

Apesar da música não tratar, em seu conteúdo, de temas muito polêmicos, o refrão é muito forte “O que você faz quando / Ninguém te vê fazendo / Ou o que você queria fazer / Se ninguém pudesse te ver”.

Como professor, ouço o que os meus alunos falam sobre suas vidas, ouço suas queixas, suas insatisfações com a família, com a vida, com amigos, com os estudos. Mas o mais curioso de tudo é que quase todos se acham injustiçados, são vítimas dos problemas criados pelos outros. Raramente se veem como a causa central dos seus próprios problemas. Mas essa forma de pensar não é exclusividade de meus alunos.

Essa facilidade em enxergar a causa de nossos problemas como algo externo a nós mesmos é uma falha de percepção. Pois se o “outro” é a causa de meus problemas, certamente, eu sou a causa dos problemas de muitos “outros”. Por esta perspectiva todos são a causa do problema de alguém e ninguém é a causa de seus próprios problemas. Obviamente esse raciocínio é equivocado.

Portanto, onde estão as causas de nossos problemas individuais ou das injustiças sociais? Creio que em nós mesmos. Nós somos a causa e o efeito dos problemas que criamos. Entretanto, também somos a solução para esses problemas. Assim, bastaria uma mudança em nossa atitude para que a situação-problema fosse transformada.

Um bom exemplo disso está na política brasileira e no crônico problema da corrupção em nosso país. Com isso, a questão é: Se estivéssemos lá, no Congresso Nacional, faríamos diferente?

Para saber, precisamos identificar algumas coisas a respeito de nós mesmos. Coisas do tipo: como é o nosso comportamento no trânsito quando não há uma autoridade no local, será que respeitamos as sinalizações? E quando exigimos nossos direitos, será que cumprimos com todos os nossos deveres? Quando um caixa de supermercado ou um trocador de ônibus nos dá o troco a menos, conferimos e exigimos o troco correto, certo? E quando o troco é a mais, nos favorecendo? Devolvemos ou ficamos com o dinheiro?

Ou como questiona a música, “o que você queria fazer se ninguém pudesse te ver?” Valendo qualquer coisa!!! Será que realmente somos tão diferentes das pessoas que fazem a política no Brasil? Será que se lá estivéssemos faríamos diferente? Afinal, uma coisa é não se corromper por falta de oportunidade, outra é ter a oportunidade e não se corromper.

Não estou afirmando que todos se corromperiam ou que a corrupção é algo normal, ao contrário, apenas gostaria que todos nós refletíssemos sobre o nosso comportamento frente às oportunidades que nos surgem. Afinal, se a causa dos nossos problemas está em nós mesmos, certamente a solução também estará. Cabendo a cada um refletir sobre seu papel no processo de corrupção da sociedade brasileira, ou será que existe corrupção só na política? Ou será que somente os outros são corruptos?

Isso me lembra de outra música “Vossa Excelência” dos Titãs que faz um desabafo sobre a atuação de muitos de nossos políticos “Sorrindo para a câmera / Sem saber que estamos vendo / Chorando que dá pena / Quando sabem que estão em cena / Sorrindo para as câmeras / Sem saber que são filmados / Um dia o sol ainda vai nascer / Quadrado!” e logo desabafa “Filha da Put...! / Bandido! Senhores! / Corrupto! Ladrão!”.

Somos diferentes deles? Será? Tomara que sim!

Ou será, que como Pilatos, lavamos nossas mãos com a ilusão de que não temos parte na corrupção que assola o nosso país? Mas o que parece que esquecemos é que fomos nós mesmos quem os colocou lá.

Por isso, fica a dúvida, “O que você faz quando ninguém te vê fazendo?

Marcos Faber
www.historialivre.com
marfaber@hotmail.com

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Carta para minha amada


Fernanda,

Eu poderia escrever uma série de frases prontas como “eu te amo”; “tu és a amada de minha vida”; “não vivo sem ti”; e tantas outras. Se utilizasse essas frases eu não estaria mentido, ao contrário, estaria sendo verdadeiro e sincero. Mas a verdade é que quero ser mais original do que isso.

Tentarei ser mais original, pois nenhuma destas frases sozinha pode explicar o que sinto por ti. Na verdade, o que há em meu coração e em minha mente é muito mais do que um simples sentimento. Os gregos, “que não sabiam de tudo, mas sabiam de muita coisa”, tinham palavras que diferenciavam as várias faces do amor. Para eles, o amor “sentimento” era denominado de “eros”, já o amor que Deus tem por nós, eles chamavam de “ágape”. A diferença entre um e outro é que o primeiro é um sentimento, representa a paixão e é condicional, ou seja, impõe condição para existir, precisa ser correspondido e, portanto, é passageiro. Já “ágape” não precisa de correspondência, pois, basta-se em si mesmo, não impõe condição e não é um sentimento, “ágape” é um dom, um dom que vem de Deus e, consequentemente, é eterno.

Tu deve estar pensando: “Que chato, queria uma carta de amor!”. Mesmo assim acredito que a explicação acima é muito boa, mas não é completa. Antes de completá-la, preciso escrever mais algumas palavras.

Tenho muitas lembranças fortes e belas sobre nós. Lembro como se fosse hoje do dia em que nos conhecemos. Também lembro vividamente do nosso primeiro beijo. E, claro, antes dele, do dia em que peguei na tua mão, tenho gravado na memória que, quando aproximei tua mão do meu rosto e a beijei, tu levou um susto e sorriu. Valeu a pena.

Mas o que me marcou mesmo, como se eu tivesse sido marcado a ferro, foi o dia de nosso casamento. A carta que tu leste pra mim, puxa, foi muito emocionante. Eu me emociono só de lembrar. Obrigado.

Mas voltando a falar de ti... afinal a carta é pra ti.

Amo quando tu dorme abraçada em mim. Gosto de ouvir a tua respiração enquanto dormes. Amo quando acordo antes de ti e fico te observando, infelizmente nossa “vida corrida” não me permite te observar tanto quanto antes. Mas como gosto de te observar! Às vezes estou te olhando e tu me pergunta: “o que foi”, como se eu precisasse de motivos para te admirar. Tu és bela, tu és linda, tu és formosa. Aos meus olhos tu és a mais bela de todas as mulheres. Sabe aquela frase “Quando Deus te fez jogou a fórmula fora”, pois é... Essa é tu.

Mas tem outra frase que define muito bem o que eu tenho no coração, é a frase que Jack Nicholson disse à Helen Hunt no filme Melhor É Impossível:

“- Você me faz querer ser uma pessoa melhor”.

Acredito que nada pode ser maior do que isso, nada é maior do que alguém que faz os outros desejarem ser pessoas melhores. E era assim com Jesus. Aqueles que estavam próximos a Ele desejavam ser pessoas melhores e, por mais que fracassassem nisso, continuavam tentando, pois amavam seu mestre. E é isso que tenho por ti, não é um sentimento, é muito mais do que isso. Afinal, não quero nada em troca para te amar. O que quero é te amar. Te amar é um fim em si mesmo, não precisa de complementos (que bonito isso). Te amar me faz querer ser uma pessoa melhor.

E, por isso, louvo a Deus todos os dias e sempre vou louvar. Louvá-lo por ter me dado o maior de todos os presentes que alguém poderia desejar ou pedir. Ou seja, que aquilo que eu “sinto” por ti (algo que eu sequer sei como definir) é correspondido. Pois sei que tu “sente” o mesmo por mim.

Sei o que tu estas pensando agora...

Sei que tu tá questionando essas palavras. Que acredita em mim, mas não acredita tanto assim. Sei que deve estar pensando que eu poderia ter sido mais direto. Mas se eu fosse mais direto sobre meus sentimentos, eu estaria mentindo ou simplesmente não estaria sendo eu mesmo.

Por isso, resumindo tudo o que eu escrevi até agora...

A verdade, sobre o que tenho por ti, é simples assim:

Te amo... E sempre irei te amar. Pois, tu és o que há de mais importante para mim.

De teu eterno marido, que te ama e te admira,
 
Marcos Emílio Ekman Faber
www.historialivre.com
marfaber@hotmail.com

sábado, 30 de julho de 2011

O Discurso de formatura


Discurso de uma formatura que fui.

“Boa noite a todos os presentes, a todos os familiares e amigos dos graduandos e, claro, uma boa noite a todos os formandos”.

“Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a todos os graduandos de 2011 por me escolherem como paraninfo da turma. Espero honrar a escolha que vocês fizeram”.

“Também gostaria de afirmar que minhas palavras nesta noite não serão somente minhas, mas de todos os professores que em muito se empenharam para que vocês estivessem aqui hoje. A conquista é de vocês, o que muito nos orgulha”.

“Bom... dito isto, iniciarei minha fala. Na verdade não tomarei muito do tempo de vocês. Apenas desejo compartilhar com todos aqui presentes duas breves histórias”.

“A primeira delas envolve uma máquina e sua utilização”.

“A máquina de escrever foi inventada pelo inglês Henri Mill em 1714. Porém, a primeira máquina sequer tinha teclados, estes somente foram introduzidos em 1808 pelo italiano Pellegrino Turri. Entretanto, os aperfeiçoamentos na máquina de escrever foram muitos ao longo dos tempos, até que ela chegasse ao modelo mais recente, fabricada em 2011, ano em que a última fábrica destas rudimentares máquinas foi fechada na China”.

“Mas, voltando ao inicio da história”.

“Na Alemanha do século XIX, as máquinas de escrever haviam revolucionado a imprensa. As máquinas que tinham apenas 23 teclas (correspondentes às 23 letras do alfabeto alemão) funcionavam de forma bastante rudimentar: quando uma das 23 teclas era pressionada, acionava uma pequena haste de ferro que ao levantar pressionava a pequena peça de chumbo que havia em sua ponta (peça onde havia a forma da letra). Quando a pá era pressionada contra a fita (com tinta) deixava sua marca na folha de papel, ou seja, marcava a folha com a letra correspondente a tecla que fora pressionada”.

“Por volta do ano de 1850, o alemão Karl Marx proferiu uma de suas mais famosas frases ‘Dê-me 23 soldadinhos de chumbo e eu conquistarei o mundo’”.

“A segunda história fala sobre uma doença, a cegueira”.

“A cegueira pode se manifestar de 4 formas distintas: pode ser uma patologia nas estruturas transparentes do olho; pode ser um doença ou uma má formação da retina; também pode ser um problema no nervo óptico; ou ainda, um problema cuja origem esteja no cérebro. Mas a mais comum destas patologias é a que ocorre na retina, deixando a pessoa total ou parcialmente cega”.

“Quando um homem cego, que se encontrava nesta condição desde o nascimento, procurou Jesus, este não pensou duas vezes, juntou terra do chão, cuspiu nela para que virasse barro e passou a moldá-la até que formasse uma pasta. Então, Jesus aplicou esta pasta nos olhos do cego e disse ‘Vai, lava-te no tanque de Siloé. E ele foi, lavou-se, e voltou vendo’”.

“Duas breves histórias de dois homens cuja fé num propósito ultrapassaram todas as barreira que lhes foram impostas. Se Marx enxergava além de uma simples máquina de escrever, isto é, enxergava o potencial que a máquina teria em suas mãos. Jesus enxergava além da limitação humana, Ele enxergava a cura e a libertação e não as limitações que a racionalidade humana muitas vezes nos impõe”.

“Para finalizar, desejo a todos os formandos que vocês possam enxergar além das adversidades que vocês certamente encontrarão. Não se deixem limitar pelas aparências e pelas ‘verdades’ que possam querer impor a vocês. Ajam como agiu Marx, vejam como viu Jesus. Se assim o for, vocês certamente irão longe, muito longe”.

“Parabéns a todos e boa noite”.

Marcos Faber
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marfaber@hotmail.com

sexta-feira, 15 de julho de 2011

As relações de poder em sala de aula e as diferentes formas de busca pelo conhecimento



Dias atrás participei de um debate sobre as relações de poder em sala de aula. Das diversas temáticas a serem discutidas, fiquei encarregado de liderar uma mesa de debates sobre as diferentes formas de busca pelo conhecimento e a sua influência nas relações de poder em sala de aula.

Cada um dos grupos, participantes do evento, recebeu um pequeno texto que deveria orientar as discussões. Meu grupo recebeu o texto “Uma Brincadeira do Mestre”, texto extraído do livro “101 Cuentos Clásicos de la Índia” organizado por Ramiro Calle. Texto, muito interessante, que norteou minha fala naquela noite. Mas meu objetivo aqui não é reproduzir o debate, mas compartilhar as conclusões a que chegamos ao fim daquela noite.

O texto trabalhado, “Uma Brincadeira de Mestre”, narrada a história de um ancião indiano que, procurado por um grupo de aldeões, é convidado a dividir seus conhecimentos com os moradores da aldeia vizinha.

Convite aceito, o mestre perguntou aos aldeões se eles sabiam o que ele estava por lhes ensinar. Como a resposta foi negativa, o mestre lhes disse: “Nesse caso, não vou lhes ensinar nada. Sois tão ignorantes que nada que eu possa lhes ensinar vai valer a pena. Enquanto não souberdes de que vou lhes falar, não vos dirigirei a palavra”. Dito isto, os aldeões se retiraram da presença do ancião.

Passados alguns dias, os aldeões procuraram novamente o mestre. Quando este lhes perguntou novamente se sabiam o que lhes seria ensinado, responderam positivamente. O ancião, então, respondeu: “Sendo assim, não tenho nada para dizer-lhes, porque já sabem. Que passem uma boa noite, amigos”. Novamente os aldeões saíram da presença do mestre confusos e frustrados.

Passados mais alguns dias, os aldeões voltaram a procurar o velho mestre. Mas, quando foram perguntados se sabiam o que lhes seria ensinado, responderam: “Uns sabem do que o senhor nos ensinará, mas outros nada sabem”. O homem santo os olhou e respondeu: “Em tal caso, que os que sabem transmitam seu conhecimento aos que não sabem” e se retirou.

Em primeiro lugar é importante entendermos que a cultura oriental é muito diferente da cultura ocidental, da qual fazemos parte. Para nós é mais difícil entender a história do mestre indiano, pois aos nossos olhos o ancião estava sendo muito grosseiro com os aldeões ao não compartilhar com eles sua sabedoria. No debate do qual participei, ouvi, de alguns professores, que o mestre era na verdade um charlatão, outros afirmaram que ele era soberbo. Mas não é bem assim. Pois, segundo a tradição oriental (hindu e budista), o conhecimento está dentro de nós mesmos, antes de obtermos o conhecimento externo, necessitamos nos conhecer. Para os orientais, sem o autoconhecimento não temos como conhecer o restante. Portanto, o mestre da história, não estava exatamente se negando a compartilhar seu conhecimento, ele estava apontando o caminho, ou seja, para ele o conhecimento estava dentro de cada um dos aldeões, portanto, estes deveriam tratar de procurá-lo.

Porém, ao contrário dos orientais, para nós, ocidentais, o conhecimento não está dentro de cada um de nós, mas em algumas pessoas que, por sua vez, tem por missão esclarecer seus conhecimentos a todos os outros. Por esse motivo, médicos evitam compartilhar com outras pessoas suas descobertas, pois se todos souberem o que eles sabem, a classe médica perderia sua função na sociedade.

Mas isto não é exclusividade da classe médica, pois advogados, engenheiros e tantos outros, acreditam que se compartilharem seus conhecimentos perderão o “ar sagrado” que suas profissões lhes conferem.

E, o mesmo ocorre com muitos de nós, professores. Pois, a maioria de nós acredita que somos os detentores do conhecimento e que nossos alunos (vazios de saber) devem buscar nos professores o conhecimento. Ao pensarem assim, esses professores, geralmente não levam em consideração a vivencia e os saberes que seus alunos possuem. Por isso, se os alunos não se enquadrarem naquilo que o professor acredita ser o correto, não terão futuro em sua disciplina.

Por outro lado, o outro extremo também é perigoso, como o citado na história do mestre indiano, onde o professor acredita que o conhecimento está simplesmente no aluno.

Ao meu ver, as duas versões para a busca pelo conhecimento estão equivocadas. No meu entendimento, o conhecimento não está somente na vivencia do ser humano, mas também não está somente no professor, ou no médico, ou no advogado. O conhecimento, e as teorias de Jean Piaget e Paulo Freire estão fundamentadas nisto, está na interação entre o individuo, o professor e o meio onde estão inseridos. Portanto, o conhecimento é uma interação e uma construção onde todos têm a sua parte na construção do saber.

E, nos dias de hoje, onde as tecnologias transformam os saberes de forma acelerada, torna-se necessário ainda mais a interação entre o professor e o aluno. Pois muitos professores por desconhecerem as novas linguagens tecnológicas tratam de evitá-las, ou pior, proibi-las. Pois assim, não se submetem ao conhecimento do aluno. E, por isso, para muitos professores a tecnologia é perigosa e desencorajada.

Segundo Don Tapscott, especialista em tecnologias da informação, vivemos, hoje, um momento tecnologicamente irreversível onde o conhecimento não é mais gerado de um para muitos (como ocorre com o médico, detentor do conhecimento, que trata de muitos pacientes). Para ele, a internet possibilita a difusão de informações e conhecimentos de uma pessoa para outra e de muitas pessoas para muitas outras. A sociedade de massa (segundo Tapscott ultrapassada), onde uma pessoa era detentora do conhecimento e somente divulgava partes de seu saber (caso de médicos, advogados e outras tantas profissões, inclusive, professores) está com os dias contatos. Pois o conhecimento está cada vez mais disponível a todos.

Por tudo isso, torna-se necessário que os professores estejam devidamente preparados. Para assim, se tornem em orientadores dos caminhos ao conhecimento adequado, já que na web ainda existe muita informação duvidosa ou falsa. Com isso, o papel do professor passa a ser o de ensinar aos alunos como discernir o que é certo do que é errado, tornando cada vez mais necessária a formação ética e cidadã dos alunos.

Portanto, professores, atualizem-se e não percam a fé.

Marcos Faber

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O Clube dos Cinco de John Hughes e as Auto Escolas no Brasil


Lembro, no início de minha adolescência, no final dos anos 80, de ter assistido a dois filmes que muito me marcaram, Vidas Sem Rumo (The Outsiders, EUA, 1983) de Francis Ford Coppola e Clube dos Cinco (The Breakfast Club, EUA, 1985) de John Hughes. Hoje dois cult movies. Ambos tratavam dos dilemas e dificuldades que a geração dos anos 80 enfrentava.

No primeiro filme, os adolescentes eram pobres moradores da periferia de Tulsa, Oklahoma. O elenco reunia jovens atores que se tornariam grandes estrelas de Hollywood: C. Thomal Howell, Ralph Macchio, Matt Dillon, Rob Lowe, Emílio Esteves, Tom Cruise, Patrick Swayze, entre outros. Já o segundo filme, tratava das diferenças entre cinco jovens de grupos e classes sociais distintas: uma patricinha (Molly “Garota de Rosa Shocking” Ringwald), uma atleta (Emílio Esteves), um nerd (Anthony Michael Hall), um criminoso (Judd Nelson) e uma esquisita (Ally Sheedy). Até hoje ainda guardo com carinho a lembrança desses dois filmes.

Dia desses (15 de julho) li no jornal que o Clube dos Cinco seria encenado no teatro Bruno Kiefer (Casa de Cultura Mário Quintana em Porto Alegre) com a direção de Bob Bahlis. E lá fui, eu e Fernanda, para a estreia. Confesso que devido às minhas lembranças, criei muitas expectativas sobre a peça. Mas mesmo assim, tinha consciência de que a história, ambientada nos anos 1980, poderia estar desatualizada. Ledo engano, a trama está mais atual do que nunca.

Clube dos Cinco se passa em uma única tarde de sábado, onde 5 jovens que estão presos na escola, cumprindo detenção por algo de errado que fizeram, precisam em 8h e 56 minutos, compor uma redação onde descrevam quem eles realmente são. Enredo simples? Sim, mas o mérito do filme (e da peça) não está ai, e sim nos conflitos que permeiam as vidas daqueles jovens.  

Enquanto analisava o Clube dos Cinco, lembrei-me da luta que minha esposa travou para tirar a carteira de motorista. Foram quatro tentativas frustradas e um sem número de aulas práticas. Lembro que ela pensou em desistir várias vezes, mas persistiu. Mulher de fibra!

Um dos vários instrutores que ele teve, chegou aconselhá-la a desistir. Ela voltou para casa aos prantos. No dia seguinte estava revoltada, foi a até a auto escola, protocolou uma queixa contra o instrutor e marcou novas aulas. Algumas semanas depois estava com a carteira de motorista em mãos.

Confesso que no início ela dirigia muito mal. Eu ficava muito nervoso de andar na carona dela. Chegava a ter medo, literalmente me segurava no banco. Mas o tempo passou e hoje ela dirige muito bem. Aprendeu na prática!

E é exatamente nisso que as lições do Clube dos Cinco se tornam tão atuais. Pois, a maioria dos jovens que não se enquadram dentro das exigências da escola ou dos professores, enfrenta muita dificuldade em sua carreira estudantil. Pois, muitos deles são rotulados como “aluno problema”, “brigão”, “patricinha”, “limitado”, “preguiçoso intelectual” e outros adjetivos, alguns impublicáveis, quando na maioria das vezes apenas expressam suas individualidades. Não estou aqui defendendo a “falta de educação” ou o “tudo pode”. Ao contrário disso, apenas acredito que a escola não pode ser um “fim em si mesma”, mas uma etapa na vida desses adolescentes.

Não é papel da escola, ou dos professores, rotular e definir quem os alunos são, mas o próprio tempo e o amadurecimento intelectual deles é que dirá quem eles se tornarão. O papel dos professores e da escola não deve ser de defini-los, mas de apontar o caminho, para que eles se descubram sozinhos. Por isso, como aconteceu com a Fernanda, que somente aprendeu a dirigir na prática, eles aprenderão com a vida, ou seja, aprenderão na prática também.

E o filme, e a peça, demonstram muito bem essa dicotomia entre aqueles que “enxergam de fora” e os jovens propriamente ditos.

Fica a dica, vá ao teatro e, principalmente, não perca a fé.

Marcos Faber

terça-feira, 14 de junho de 2011

Tartufo de Molière e o complexo de Superman



Domingo (05 de junho) eu e Fernanda, minha esposa, fomos assistir à peça Tartufo, de Molière (1622-1673), encenado pelo Grupo Farsa de Porto Alegre. Pela primeira vez fomos ao Teatro de Câmara (Túlio Piva). A peça, uma excelente adaptação atualizada aos nossos dias, é a segunda parte da trilogia “As Três Batidas de Molière” das quais O Avarento, também excelente, foi a primeira.
Tartufo nos conta a história de Orgon, um abastado aristocrata francês e sua família, que têm a união ameaçada pela interferência do personagem título. Este último, um falso líder religioso, faz uso da fé de Orgon em seu benefício, lhe tirando tudo o que consegue alegando ajudar aos necessitados. As maquinações de Tartufo cegam seu benfeitor ao ponto de Orgon lhe destinar todos os bens que possui. A família do aristocrata, desesperada com a devoção do patriarca pelo falsário, tenta de todas as formas revelar a verdadeira face do enganador. Mas Tartufo sempre consegue reverter as situações em benefício próprio, ganhando cada vez mais a simpatia de Orgon. O patife somente é desmascarado quando Elmira, esposa do beato, seduz o farsante. Ao cair na armadilha, a verdadeira face de Tartufo é revelada. E Orgon, desiludido, expulsa Tartufo de sua casa. É a redenção da família com Orgon.
Quando estreou em Paris em 1664, Tartufo era uma severa crítica ao poder que a Igreja Católica tinha sobre a sociedade francesa do século XVII. Por esse motivo, a peça chegou a ser censurada por um breve tempo. Mas, a crítica presente em Tartufo, ainda é válida hoje, sobreviveu aos tempos, chegando vívida aos nossos dias. Pois, muitos ainda vivem de explorar a fé alheia, não somente por meio de seitas sem escrúpulos, mas por todo tipo de “profetas” e “gurus” da autoajuda e, também, por aqueles que prometem soluções mágicas, seja pelo emagrecimento acelerado ou por um rejuvenescimento por meio cirúrgico.
Enquanto saía do teatro, lembrei-me da música “Superman” da banda de hard rock Fruto Sagrado. “Tenho visto tanta coisa errada nesta estrada / Muito falso herói se achando o tal / Iludido com aplausos, elogios... com o pedestal / Até eu já vacilei, dei bobeira, viajei / Esqueci que levo tombo como qualquer um / Esqueci que levo tombo, esqueci que sou normal / Alguém aqui é normal?”. E, no refrão, prossegue “Eu sou diferente, igual a todo mundo / Sem Você eu não sou ninguém / Eu sou igual a todo mundo / Não existe superman”. Não somos autosuficientes e muito menos devemos seguir somente a homens.
E o grande mérito de Tartufo está exatamente aí, pois Molière, e o grupo Farsa, nos lembram de que não podemos depositar nossa fé devocional em homens. Afinal, homens falham, são gananciosos e corrompem-se. Por isso, precisamos entender a diferença entre fé e religião. Religião é uma construção humana, é feita por seres humanos. Vem do latim “religio” e quer dizer religar-se. Portanto, religião é uma busca.
Já a fé vai além. Fé é o caminho que nos conduz àquilo que nossos olhos não podem ver. A fé é muito mais do que religião, desde que, claro, seja depositada em Deus. “Agora eu tô sabendo / Que o sofrimento é um megafone / É Deus pra mim gritando que eu não sou super-homem / Que eu sou de carne e osso que eu vou passar sufoco / Agora eu não esquento não vou esconder meu choro / Afinal eu sou um cara comum / Que também leva tombo como qualquer um / Que tropeça, levanta mas não sai da dança / Tropeça, levanta e não sai da dança”. Uma pessoa de fé é insistente, não desiste e sabe que é falha. Afinal, não existem supermans.
Assim, se a religião é uma busca, a fé é uma certeza.
Em dias escuros como os nossos, em que seguimos – via twitter, facebook, orkut e outros – comediantes, pornostars, jogadores de futebol, músicos e uma série de celebridades que não nos acrescentam nada, não seria o monento de abandonarmos todos esses tartufos para seguirmos alguém que valha a pena?
Fica a dica, vá ao teatro, e, principalmente, não perca a fé.
Marcos Faber

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Teorias do Futebol (2): As oito faces de um futebolista

A história do lendário Hércules nos traz uma série de contos mitológicos, dos quais, se destacam os famosos 12 Trabalhos de Hércules. Nas 12 aventuras, o herói grego enfrenta uma série de desafios humanamente impossíveis de serem vencidos. Somente Hércules, um semideus, conseguiria completá-los.

Este fantástico mito nos permite compreender que o herói grego, em cada um dos trabalhos realizados, demonstra dominar cada uma das várias faces da personalidade que um herói deve ter. Hércules, segundo a tradição grega, mostrou ser sábio, objetivo, forte, astuto, perspicaz e persistente. Por isso venceu os 12 obstáculos que lhe foram impostos.

Como no exemplo de Hércules, um jogador de futebol também necessita dominar uma série de faces de sua personalidade para ser um bom futebolista. Não adianta ter habilidade com a bola se não houver objetividade. Assim como não resolve ter objetividade se não existir técnica. Por isso, dominar as 8 faces da personalidade de um futebolista é essencial para que um jogador de futebol realmente seja um craque.

As oito faces da personalidade de um futebolista são: sabedoria, habilidade, técnica, domínio próprio, sujeição à autoridade, objetividade, condicionamento físico e raça.

A primeira dela, a sabedoria é indispensável. Sei que qualquer conhecedor do futebol poderá citar uma grande quantidade de grandes jogadores de futebol que não se caracterizavam exatamente por serem grandes sábios. Mas também não podemos deixar de lembrar que um outro cem número de futebolistas se destacaram exatamente por esse motivo. Sem sabedoria, sequer é possível executar bem qualquer das outras características de um futebolista.

A segunda característica é a habilidade. Acredito que todas as pessoas possuem certas habilidades natas para realizarem determinadas coisas. Um futebolista necessita ter habilidades naturais para a execução de sua profissão, ou seja, jogar bola. Mas ter habilidade não garante sozinha ao jogador de futebol ser um grande craque.

A terceira face, a técnica, vem com o aperfeiçoamento da habilidade. Neste sentido a sabedoria auxilia no aperfeiçoamento e no desenvolvimento da técnica, o que amplia consideravelmente a habilidade de um futebolista.

O domínio próprio, quarta questão, é a que determina aqueles que se tornarão vencedores dos que não saberão ultrapassar o nervosismo e as provocações dos adversários, coisas normais em qualquer área de atuação.

A quinta, sujeição às autoridades, é necessária para que gere humildade e entendimento. Principalmente quando o futebolista acreditar-se acima do bem e do mal, ou seja, acreditar-se capaz de vencer sozinho qualquer adversidade. A sujeição às autoridades o segurará e o fará atentar para aquilo que lhe for ensinado por seus treinadores e preparadores.

A objetividade, sexta característica, se torna indispensável, pois não permite que o jogador de futebol se torne “firulento”, ou seja, não vire o jogador das jogadas desnecessárias. A objetividade fará com que o jogador busque o objetivo maior do futebol, que é maior do que o mérito pessoal, isto é, a vitória do time, a vitória do coletivo.

Condicionamento físico, sem a preparação adequada, física e mental, não existe o atleta, não existe o profissional.

E, por último, mas talvez a mais importante de todas, é a raça. Sem raça, sem determinação, sem desejo pela vitória não existe o craque, não existe o vencedor. O vencedor necessita de raça. Pois somente assim, não desistirá de seu objetivo e ampliará consideravelmente a habilidade que possui. Sua vontade de vencer o fará superar até mesmo os problemas de esgotamento físico que venha a enfrentar.

Deu para perceber que as faces da personalidade de um futebolista não se restringem a um jogador de futebol, mas a todas as pessoas e em todas as profissões. Se todos agirem desta forma (dominando as 8 faces da personalidade de um craque), seja em que profissão for, serão os melhores naquilo que fazem. Serão craques em suas profissões.

Experimente, se funcionou com Hércules, funcionará com todos nós.

Eu já comecei.

Marcos Faber

sábado, 14 de maio de 2011

A Nudez de Noé e a Falta de Limites


Acredito que todos conheçam a história bíblica do dilúvio. Não, não contarei esta história. Escreverei sobre o que aconteceu depois.

Como todos sabem, ou deveriam saber, Noé e sua família ficaram numa arca cheia de animais por quase cinco meses. Na arca, estavam, além de Noé, sua esposa, os três filhos, Sem, Jafé e o caçula Cam, e suas esposas. E, é claro, de centenas de casais de animais selvagens e domésticos.

Imaginem o cheiro do lugar, o barulho ensurdecedor, o trabalho constante e ainda escutar as reclamações da esposa: “Noé, os macacos estão brigando!”, “Noé, estou com vontade de comer um doce!”, “Noé, acabou o papel!” e, por fim, “Noé, você ainda me ama?”. Que estresse Noé deve ter passado!

Por tudo isso, quando saiu da arca, o patriarca construiu um altar onde realizou um holocausto a Deus. Ali, Noé agradeceu a libertação divina.

Em seguida, o patriarca bíblico plantou uma videira. Quando finalmente colheu a primeira safra de uvas, tratou de fazer vinho. O primeiro vinho pós-dilúvio não deve ter sido muito saboroso. Mas, mesmo assim, Noé recolheu-se em sua tenda, acendeu uma fogueira e encheu a cara.

Cam, um dos três filhos do ancião, viu a sombra do pai na parede da tenda. Provavelmente Noé estava dançando, alegre, feliz e aliviado. Cam foi até onde estava o pai e viu que ele estava nu. Peladão e dançando!

A reação de Cam foi a de pegar o grogue pai pela mão e leva-lo até os irmãos. Cam deveria estar às gargalhadas, debochando do bebum. Mas Sem e Jafé tiveram uma reação bem diferente. Repreenderam a atitude do irmão, cobriram o pai e o levaram de volta à tenda.

No dia seguinte, Noé, provavelmente com a maior ressaca, chamou Cam para uma conversa. O ancião olhou no fundo dos olhos do filho, como não percebeu arrependimento, o amaldiçoou. Segundo Noé, Cam e sua descendência estavam condenados a servir na tenda dos irmãos. Para o patriarca, o filho caçula era, agora, maldito sobre a terra.

Noé foi cruel com o filho? A resposta é simples: não.

Mas, para entender melhor o que aconteceu, precisamos compreender quem realmente era Noé nesta história toda. Esta tudo lá no livro de Gênesis. Noé havia sido escolhido por Deus para preservar a criação divina, pois ele era o único justo sobre a terra. Noé era o representante de Deus entre os homens, na verdade ele era a maior autoridade humana naquele momento. A atitude de Cam, não foi simplesmente a de humilhar o pai, mas a de humilhar e desrespeitar um sacerdote. Quando Cam humilhou o pai demonstrou sua falta de respeito àquele que era a maior autoridade que existia sobre a sua vida. Por isso, foi amaldiçoado.

Hoje, qualquer um pode perceber o desrespeito que existe para com as autoridades, sejam elas de que esferas forem. São pessoas que não respeitam policiais. Professores que são desrespeitados por alunos. Filhos que não obedecem aos pais. Jovens que abusam dos mais velhos. Para alguns, a culpa é da atual geração que cresce com excesso de liberdade, mas a verdade é que os desrespeitados, citados acima, também não respeitam seus pares.

Nas escolas que leciono, converso com pais que justificam a má educação dos filhos, afirmando que eles têm déficit de atenção ou hiperatividade ou outra patologia qualquer que foi lida em uma revista. Mas após consultarem especialistas, fica claro que o problema dos filhos é pura e simplesmente falta de limites. Fazem o que querem, não sabem se sujeitar às autoridades. Na verdade nem os pais sabem!

Presencio constantemente cenas de desrespeito, não só de alunos, mas também de professores que não se dão nem ao trabalho de respeitarem à execução do hino nacional, ao invés de darem o exemplo ficam conversando sobre novela ou Big Broder, tudo para eles é mais importante do que o momento cívico. Como cobrar postura diferente de seus alunos? E o que falar de meninas de 12 ou 13 anos que se vestem, perdoem-me a palavra, como prostitutas (usam micro saias, maquiagem, piercings e tatuagens com conotação sexual), me perdoem se soar conservador, mas essas meninas não respeitam nem as limitações de suas idades e, pasmem, têm a aprovação dos pais.

O que nos falta é educação. Se a sociedade brasileira tivesse um pouco do respeito que Sem e Jafé tiveram pelo pai, talvez nosso país não fosse obrigado a servir na tenda de outras nações.

Marcos Faber

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Teorias do Futebol (1): Afinal, o que é o futebol?


No inicio, o ser humano se organizava em tribos patriarcais e nômades. Os homens eram caçadores e guerreiros, já as mulheres eram coletoras e responsáveis pela criação dos filhos. Mas, como tudo na vida, ocorreram algumas transformações importantes. A principal, sem dúvida, foi o desenvolvimento da agricultura. A agricultura foi essencial para que se produzissem alimentos em quantidade suficiente para alimentar a todos. Com a agricultura surgiu a necessidade de organizar a sociedade. Nascia, assim, a civilização.

A civilização surgiu originalmente na Mesopotâmia, há aproximadamente 5 mil anos atrás. Conforme foi se desenvolvendo, a civilização foi pouco a pouco retirando dos homens aquilo que fazia deles homens. Se no inicio o homem vivia livre pelas estepes caçando e colhendo frutos, com o tempo passou a domesticar animais e a plantar. O desenvolvimento da pecuária e, depois, da agricultura retirou do homem o prazer da caça e da coleta, condenando-o a uma vida pacata e sedentária.

Outra coisa que se perdeu com o tempo, foi a convivência com a guerra. Não a guerra de exércitos que conhecemos hoje, mas a guerra tribal, onde cada homem da tribo era um soldado em potencial. Todo homem era um guerreiro. Hoje as guerras são televisionadas e travadas bem longe de nossas casas, os iraquianos que o digam. Mas, por mais contraditório que isso seja, nossa sociedade não convive com a paz, ao contrário, nas cidades a insegurança é cada vez maior.

Mas a verdade é que o surgimento da civilização e da sociedade pôs fim em muito do que era o homem em sua essência. A filosofia e a psicanálise nasceram daí. Da necessidade do homem se entender. Na busca por entender a si mesmo, o homem ainda não se encontrou e, certamente, trabalhar num escritório vestindo terno e gravata não irá devolver paz ao coração guerreiro de um homem.

A organização dos esportes, no final do século XIX, reacendeu a chama guerreira nos homens. Sem dúvida, dois esportes se destacam neste sentido: o rugby (pouco praticado no Brasil) e o futebol (o mais popular esporte do planeta).

Por isso, há muito tempo que o futebol deixou de ser um esporte para se tornar num palco de representações da sociedade. O futebol se tornou o momento de catarse da sociedade moderna. É no futebol que o homem extravasa colocando para fora na forma de “gritos de guerra” tudo aquilo que o sufoca. Gritar gol é mais do que comemorar o ponto marcado pelo time, é colocar para fora tudo o que amordaça o ser humano.

Segundo os mais antigos, numa excursão do time do Santos à África, uma guerra civil foi parada para que uma partida amistosa entre o clube e uma seleção local não fosse cancelada. Os grupos em disputa preferiram o futebol à guerra.

Talvez, por isso, que algumas torcidas organizadas de grandes clubes de futebol, seja no Brasil ou na Inglaterra, se comportarem de forma tribal. Onde, muitas vezes, as rivalidades ocorrem dentro de grupos diferentes de torcedores do mesmo clube. Essa irracionalidade é explicada quando compreendermos o que significa o futebol em nossos dias.

O futebol é hoje, aquilo que um dia foi o homem.

O futebol não é um esporte e muito menos uma arte, como afirmam alguns. O futebol é um campo de guerra, um moderno campo de batalha onde o homem aproxima-se daquilo que ele nunca deixou de ser: um caçador e um guerreiro.

Marcos Faber

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Faraó Akhenaton e a Reforma Política no Brasil

Numa certa manhã nublada do século XIV a.C., são raras as manhãs nubladas no Egito, o faraó Amenófis IV saltou da cama com o coração em disparada. Havia tido um pesadelo terrível que o havia atormentara por toda a madrugada. No sonho, o faraó estava numa grande sala onde vários deuses estavam reunidos. Apesar de Amenófis estar presente, quem liderava a reunião era Seth, o deus com cabeça de chacau. Por ordem de Seth, os deuses cercaram o rei egípcio, todos empunhando adagas. Seth se aproximou e desferiu um golpe contra o faraó que, antes da lâmina o tocar, acordou ensopado de suor.
Angustiado, Amenófis mandou chamar seus conselheiros e magos, queria uma interpretação para o sonho. Porém, nenhuma das interpretações devolveu paz ao coração do faraó.

Inquieto, Amenófis resolve se retirar. Sobe até seus aposentos onde, do alto da janela, fica a fitar o céu. O raro dia nublado perturbava ainda mais o faraó, “Será este um sinal?”. Foi então que, em meio às nuvens, o sol saiu imponente a brilhar, em questão de segundos as nuvens se desfizeram. A mudança no tempo devolveu paz ao coração do monarca. Amenófis não tinha mais dúvidas, sua vida e seu reinado corriam sérios riscos.
No entendimento do faraó, os deuses conspiravam contra sua vida. Somente Aton, deus representado pelo disco solar, poderia protegê-lo. Para fugir dessa cilada, o faraó teria de afastar os outros deuses do Egito.
Tomada a decisão, Amenósis inicia um novo programa de governo. Era necessária uma reforma político-religiosa no Egito. A primeira medida foi mudar seu próprio nome. Amenófis torna-se Akhenaton “o espírito atuante de Aton”.
A partir daí, Akhenaton começa um processo de reestruturação da religião egípcia. O culto aos deuses é proibido, com exceção ao culto a Aton. Templos são fechados. Sacerdotes, responsáveis pelo culto aos outros deuses, são destituídos.
A reforma religiosa parecia não ter fim quando Akhenaton decide construir uma nova capital para o reino. A nova cidade, mesmo antes de ser concluída, foi batizada de Akhetaton, o “horizonte de Aton”. Mas a construção trouxe consigo sérios problemas ao faraó, pois a construção obrigou o deslocamento de milhares de escravos para as obras da nova capital. Isso gerou o descontentamento dos outros centros políticos egípcios. Como se isso não bastasse, antigos ministros, conselheiros e, principalmente, os sacerdotes destituídos passaram a conspirar contra Akhenaton.
Os conspiradores não aceitavam as reformas promovidas pelo faraó. Muitos haviam perdido seus preciosos cargos, outros tinham sofrido com o fechamento de seus lucrativos templos. Assim, na calada da noite os conspiradores se reuniram tomando uma importante decisão: Akhenaton precisa ser assassinado.
Em uma bela noite do ano 1382 a.C., Akhenaton recebeu a visita de seus antigos conselheiros. No final daquele encontro o faraó estava morto. A forma como Akhenaton foi assassinado permanece um mistério até hoje.
O que não é mistério foi o que aconteceu com o Egito nos meses que se seguiram. A antiga religião politeísta foi restaurada, templos foram reabertos e a memória do falecido faraó apagada. Até a cidade de Akhetaton foi abandonada.
Era o fim do único faraó monoteísta que se tem notícia.
Mas a resistência à mudança não foi exclusividade dos egípcios antigos.
Há muito tempo que ouço falar em reforma política no Brasil. Alguns defendem o voto distrital, outros o fim da reeleição, também há quem acredite que o voto em lista seria a melhor solução para o processo eleitoral.
Das alternativas que são apontadas para a reforma política, a que acredito ser a mais adequada é a do deputado federal Henrique Fontana, relator da comissão especial da Câmara. Fontana defende o financiamento público de campanha, ou seja, cada candidato deverá buscar exclusivamente em verbas públicas os recursos para sua campanha. Essa Lei barraria a formação de caixa dois, pois tornaria proibido o recolhimento de recursos de campanha junto à iniciativa privada. Com isso, diminuiriam os políticos que fazem lobby para as empresas que os financiam.
Mas na minha opinião a única reforma política que realmente surtiria algum efeito é a que criasse Leis que garantissem a educação política dos eleitores. Enquanto o país não investir na educação política de nossa população, ensinando-a sobre o funcionamento do processo eleitoral, de nada adiantará realizar grandes reformas.
O problema eleitoral do país está no fato das pessoas não conhecerem as regras do sistema. Alegar que uma reforma política irá impedir que Tiriricas sejam eleitos é não desejar mudança alguma. O que precisa ser feito é conscientizar o eleitorado sobre as regras do jogo. Enquanto não criarmos uma consciência político-eleitoral no país, nada mudará.
Mas que o exemplo de Akhenaton seja observado, pois os sacerdotes e ministros que não desejam mudança alguma estão por todos os lados. Afinal, muitos irão perder com uma reforma política no Brasil.
Marcos Faber
www.historialivre.com
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