terça-feira, 16 de outubro de 2018

O Fascismo já é uma Realidade em nossa Sociedade


O FASCISMO JÁ É UMA REALIDADE EM NOSSA SOCIEDADE
por Marcos Faber
A dificuldade para realizar uma leitura racional sobre a realidade sempre representou um problema para a sociedade brasileira. Incrivelmente não conseguimos deixar de repetir erros do passado. Como afirmou George Santayana,

Aqueles que não podem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”.

Por mais que a História registre a catástrofe que regimes autoritários e antidemocráticos já causaram no mundo inteiro... Se não aprendemos com os exemplos do passado... Por que repetimos esses erros?
Mas, desta vez, não estamos simplesmente repetindo erros, estamos indo além, estamos ressuscitando uma ideologia extremamente periga: o fascismo.

E o fascismo é fascinante deixa a gente ignorante e fascinada.
É tão fácil ir adiante e se esquecer que a coisa toda tá errada.
A história se repete mas a força deixa a história
mal contada...

Trecho de Toda Forma de Poder, música da banda de pop rock Engenhos do Hawaii. A canção e a banda marcaram muito o início dos anos 1990. Outra marca cultural da década foi o filme Matrix de 1999, mas este, um fenômeno cultural mundial.
   Poucas obras influenciaram tanto uma geração como Matrix. É difícil mensurar a importância do filme para o cinema e para a cultura global, mas como parâmetro, posso afirmar, sem medo de errar, que a maior parte dos filmes, séries, animações, livros e HQs de ação e ficção da atualidade não existiriam sem Matrix.
Por isso, não vou entrar em detalhes sobre o filme, acredito que todos já conheçam a premissa da obra.
O que desejo, é trazer à lembrança de todos uma das mais importantes e emblemáticas cenas do filme. Aquela em que o personagem Morpheus (interpretado por Lawrence Fishburne) revela para Neo (Keanu Reeves) a verdade sobre a realidade, isto é, que o mundo que Neo conhece é, na verdade, uma realidade virtual controlada por uma inteligência artificial chamada Matrix.
Neste ponto do filme, Morpheus oferece ao herói a oportunidade de conhecer a realidade e sair da Matrix. Morpheus não impõe isso a Neo, pelo contrário, oferece dois caminhos e duas pílulas; uma vermelha e outra azul. A pílula vermelha irá fazer Neo despertar daquele mundo artificial e conhecer a verdade sobre a realidade, a outra pílula, a azul, fará Neo esquecer tudo o que aconteceu e voltar para sua vida pacata dentro do simulacro da Matrix.
Não se preocupe, eu não vou cair no clichê de afirmar que estamos vivendo em uma Matrix. Na verdade, quero voltar ao assunto inicial, ou seja, minha preocupação com o surgimento do fascismo no Brasil.
Tenho ouvido muitas pessoas afirmarem que está ocorrendo uma manipulação das pessoas. Pessoalmente não acredito nisso, não acredito que o fascismo ocorra por meio de manipulação. Isso até pode acontecer com a grande massa que, sem ter total consciência da realidade, apoie um regime fascista. Fora isso, acredito que o fascismo seja muito mais do que uma manipulação, acredito que as pessoas se convertem à ideologia fascista. E é por isso que ela é tão perigosa.
Quando a conversão acontece, essas ideias passam a fazer parte das vidas destas pessoas, tornam-se uma medida para todas as suas crenças. Por isso, um fascista torna-se um fanático.
E é aí que o perigo começa.
Pois os que conscientemente se tornam fascistas se tornam os mais perigosos, os mais violentos, os mais intolerantes e os mais cegos. E, o mais assustador de tudo é que muitos já fizeram a escolha pelo fascismo...
Contudo, acredito que vai chegar o momento em que o perigo desta ideologia vai ficar claro para todos, não haverá dúvidas sobre sua existência e influência. As pessoas irão entender o que está ocorrendo. Irão entender o que todas essas ideias significam e o perigo que representam.
Não sei se vai demorar para as pessoas acordarem para o perigo que é o crescimento do fascismo em nossa sociedade. Mas quando isso acontecer, a sociedade brasileira terá de tomar uma decisão: desmascarar o fascismo, tomando a pílula vermelha e acordando para a realidade, ou tomar a outra pílula e conscientemente aceitar o fascismo como o 'novo' normal. Se a segunda opção for a escolhida, a História tem alguns exemplos de qual será nosso destino.



terça-feira, 9 de outubro de 2018

Bolsonaro é Fascista?



BOLSONARO É FASCISTA?

por Marcos Faber
www.historialivre.com
Recentemente foi lançado no Brasil o livro “Quando as Democracias Morrem” dos autores norte-americanos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt (Zahar, 2018). Segundo os próprios autores, a motivação para escrever o livro veio do entendimento de que a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos representa uma ameaça à democracia do país.
No livro os autores afirmam que, ao contrário do que ocorreu no passado, quando democracias chegavam ao fim por meio de revoluções ou golpes de estado, onde a violência estava presente, hoje os caminhos que levam à morte de uma democracia são muito mais sutis. E começam com a eleição de um líder carismático que não teme em desrespeitar liberdades individuais e coletivas para alcançar seus objetivos.
Contudo, os autores afirmam que existe uma forma de identificar um discurso avesso à democracia. Para eles existem quatro momentos em que um aspirante ao poder dá mostras de seu caráter antidemocrático e autoritário:
1.    Rejeita as regras democráticas: mesmo que suas afirmações não tenham consistência ou comprovação, questiona a legalidade de instituições democráticas, como decisões de tribunais ou o resultado das urnas em caso de derrota;
2.    Nega a legitimidade de seus oponentes: se diz o único honesto, o único que pode salvar o país, o único que diz a verdade. Afirma ser literalmente o salvador da pátria (“Make America Great Again”,  “Deus, Pátria e Família”);
3.    Tolera e encoraja à violência: faz piadas de cunho racista ou homofóbico. É tolerante com a xenofobia, o machismo, a intolerância religiosa. Invariavelmente exalta a ditadores ou torturadores do passado;
4.    Insinuam que podem retirar liberdades civis ou até mesmo de setores da mídia: direta ou indiretamente fazem afirmações que, caso cheguem ao poder, podem restringir liberdades de crença, expressão, gênero ou comportamento.
Contudo, preciso lembrar que Levitsky e Ziblatt estão realizando uma análise do caráter político de Donald Trump, em nenhum momento a realidade brasileira entra na perspectiva dos autores. Mesmo assim, percebemos que todos os elementos listados pelos autores podem facilmente ser associados a Jair Bolsonaro.
A partir disso podemos afirmar que Bolsonaro é um líder político antidemocrático e autoritário, apesar desta constatação já ser suficiente para não votar nele, são características que não o tornam um fascista.
Para isso, precisamos entender o que é ser fascista.
Quando dou aula sobre o surgimento do nazismo e do fascismo, procuro reforçar alguns conceitos que são, na verdade, características das ideologias fascistas, são elas:
·  Culto a figura de um líder carismático;
·  Ditadura: o discurso fascista é antidemocrático, em casos extremos pode levar ao totalitarismo;
·  Nacionalismo: adotam políticas de valorização ao nacional em detrimento ao internacional, em casos extremos levam à xenofobia, isto é, ao ódio aos estrangeiros (como foi o caso dos nazistas em relação aos poloneses);
·  Hierarquização e militarização da sociedade: a estrutura do poder se torna tão rígida que, em alguns casos, chegam a colocar militares em postos de comando;
·  Ideologia conservadora: avessos aos avanços da sociedade. Quase sempre idolatram um passado idealizado (não reproduzindo a realidade);
·  Censura e controle de todas as mídias, assim como censura prévia às expressões artísticas de vanguarda;
·  Maniqueístas: enxergam a sociedade como dividida em dois grupos, o bem e o mal. Por motivos óbvios, entendem-se como o bem. Por isso, perseguem todos os que pensam diferente deles. Estimulam a violência contra adversários políticos e minorias (gênero, étnicas, religiosas, sociais);
·  Patriarcalismo: o homem é a figura de autoridade. Em casos extremos leva à misoginia (aversão às mulheres. A figura feminina deve ser dócil e mantida em submissão aos desejos masculinos);
·  Anti-intelectualismo: hostilidade e desprezo à intelectuais e às Universidades (motivo: temem ser desmascarados);
·  Anticomunistas: identificam todos os espectros ideológicos, que não se enquadram em seu modo de entender a política, como comunistas (ou, como ocorre hoje, esquerdistas).
Mas no Brasil atual, quem é que defende essas ideias? Apenas o líder fascista? Ou a coisa é muito mais complexa do que parece?
Tem um livro que eu gosto muito chamado “Eu Sou a Lenda” de Richard Matheson. Sim, é o livro que deu origem ao fraco filme com Will Smith. Mas posso garantir, o livro é infinitamente melhor do que o filme!!! No romance o autor escreveu:
“normalidade é um conceito de maioria, um padrão de muitos e não o padrão de apenas um homem”.
As bolhas ideológicas* criadas pelas redes sociais possibilitaram que parte da sociedade brasileira inconformada pelos avanços da sociedade, ou pelo politicamente correto, encontrassem outras pessoas com ideias reacionárias sobre a sociedade. Nestes espaços, diferentes formas de preconceitos, racismo e outras questões condenáveis, se tornaram aceitáveis e, por incrível que possa parecer, se tornaram a “nova” normalidade, ao menos para essas pessoas.
Por tudo isso a verdadeira questão não é se Bolsonaro é ou não fascista. Isso já está bem definido. A verdadeira questão é: o Brasil está se tornando um país de fascistas?

* Redes sociais como o Facebook e o YouTube possuem um algoritmo que filtra o que é mostrado ao usuário, dando a ele apenas o que mais lhe agrada ver e não enchê-lo com informações que não lhe interessem. O algoritmo cria uma “bolha” com apenas informações que estejam associadas ao histórico de navegação da preferência do usuário.