segunda-feira, 1 de junho de 2020

Pensando História: Fascismo



PENSANDO HISTÓRIA: FASCISMO

Fascismo é uma palavra italiana derivada da expressão latina “fascio”. Os "fascios" eram símbolos romanos, isto mesmo, eram da época do Império Romano, e representavam a união de vários frágeis gravetos que, uma vez, amarrados formavam um forte feixe... que ornamentado com um machado... torna-se um símbolo de força e do poder da união.

(...)

Essa era a explicação padrão... digo era, porque não pretendo continuar com uma explanação tradicional ou padronizada sobre este assunto.
E o motivo desta decisão está no fato de eu acreditar que o tema “fascismo” é, obviamente, um assunto muito polêmico e que, por esse motivo, exige um posicionamento. Pessoalmente (e também teoricamente) não acredito que seja possível falar de fascismo sem um claro posicionamento a respeito do assunto.
O fascismo é, sem que exista qualquer dúvida de minha parte, a ideologia – e também a prática política – mais nociva e repulsiva que existe ou já existiu. O fascismo é tão terrível e abjeto, que mesmo na ficção, é o vilão de muitas histórias... O que uma breve pesquisa em obras de literatura, cinema e quadrinhos pode facilmente confirmar. Sem meias palavras, acredito que esta ideologia – ou prática política – não só é completamente desprezível, como deve ser combatida.
Agora que meu posicionamento a respeito do tema está esclarecido... o que pretendo aqui não é somente explicar (ou tentar explicar) o que é fascismo, mas, também, compreender como... Mesmo após os desdobramentos da Segunda Guerra Mundial, mesmo tanto tempo tendo se passado... Como... ainda hoje, o fascismo pode ser tão atraente para tantas pessoas.

Segundo Walter C. Langer
“O poder e a fascinação de Hitler ao discursar residem quase por completo em sua capacidade de sentir o que uma dada plateia queria ouvir e, então, manipular seu tema de tal maneira que ele despertava as emoções da multidão”. (“A Mente de Adolf Hitler”, página 40).

Mas será que o fascismo se baseia na manipulação das massas? – como enfatiza o autor... ou as pessoas sabem exatamente no que estão se envolvendo?

Segundo o dicionário Michaelis, fascismo é um:
“Sistema ou regime político e filosófico, antiliberal, imperialista e antidemocrático, centrado em um governo de caráter autoritário, representado pela existência de um partido único e pela figura de um ditador, fundado numa ideologia de exaltação dos valores da raça e da nação em detrimento do individualismo”.

A partir desta definição podemos afirmar que um regime fascista é, antes de mais nada, autoritário, antidemocrático, excludente e elitista.
Contudo isso, não está aí seu principal problema, já que tantas outras formas de governo se amparam em regimes autoritários e ditatorial para se impor.
Edda Saccomani aponta que uma das principais características de um regime fascista está o “aniquilamento das oposições, mediante o uso da violência e do terror [e] por um aparelho de propaganda baseado no controle das informações e dos meios de comunicação de massa” (in: Norberto Bobbio, “Dicionário de Política”, página 466).
Isto é, trata-se de um regime que se fundamenta na perseguição e na tentativa de destruir todos os seus oponentes. E, que para justificar suas ações faz uso do controle da informação – incluindo a comunicação via redes sociais.
Já Umberto Eco afirmou que no fascismo “o irracionalismo depende também do culto da ação pela ação. A ação é bela em si e, portanto, deve ser realizada antes de e sem nenhuma reflexão. Pensar é uma forma de castração. Por isso, a cultura é suspeita na medida em que é identificada com atitudes críticas”. (Umberto Eco, “O Fascismo Eterno”).
A rejeição ao pensamento reflexivo e crítico responde, ao menos em parte, porque fascistas são tão avessos a determinadas vertentes artísticas e culturais – especialmente aquelas que não compreendem – e, também, porque são ativos combatentes do pensamento racional e, claro, incluindo aí, o conhecimento científico.
  Entretanto, apesar de se oporem – ou serem negacionistas – a respeito de muitos avanços científicos, eles procuram criar sua própria “ciência”, baseando-se não em evidências, mas naquilo que colabore com sua ideologia. Ou seja, apoiam pesquisas que confirmem aquilo que já de antemão acreditam, por outro lado, tentam destruir tudo aquilo que coloque em risco suas crenças.
Quando analisou o nazifascismo alemão, a escritora Hannah Arendt afirmou que regimes como aquele produzem “pessoas incapazes de pensar do ponto de vista de outra [pessoa]”. (“Relatório do julgamento de Adolf Eichmann” de 1963).
A associação entre a rejeição ao diferente e a incapacidade de entender o ponto de vista de outra pessoa tornam adeptos do fascismo pessoas intolerantes com qualquer outra forma de pensar, especialmente, com ideias que se oponham às suas crenças.
Creio que aqui está a pior face do fascismo: a intolerância e, consequentemente, toda a violência – física ou moral – que despejam para com todos aqueles que de alguma forma não fazem parte de seu grupo.
É aqui que começam a usar sua pseudo-ciência para justificar seus preconceitos e suas ações, seu racismo, sua xenofobia, sua misoginia e todo o ódio que sentem por grupos que identificam como rivais.

Segundo Richard Matheson, autor do clássico Eu Sou a Lenda”:
“normalidade é um conceito de maioria, um padrão de muitos e não o padrão de apenas um homem”.

Fascistas tentam criar um novo “normal”.
As bolhas ideológicas criadas pelas redes sociais possibilitaram que parte da sociedade – principalmente aquela – inconformada pelos avanços da sociedade, ou pelo pejorativamente denominado politicamente correto, encontrassem outras pessoas com ideias reacionárias sobre a sociedade.
Nestes espaços, diferentes formas de preconceitos, racismo e outras questões condenáveis, se tornaram aceitáveis e, por incrível que possa parecer, se tornaram a “nova” normalidade, ao menos para essas pessoas.
Creio que neste momento fique mais claro a questão da manipulação – citada no início do vídeo...
Pois pessoalmente não acredito que o fascismo ocorra por meio de manipulação. Isso até pode acontecer com a grande massa que, sem ter total consciência da realidade, apoie um regime fascista. Fora isso, acredito que o fascismo seja muito mais do que uma manipulação, acredito que as pessoas se convertam à ideologia fascista. E é por isso que ela é tão perigosa.
 Quando a conversão acontece, essas ideias passam a fazer parte das vidas dessas pessoas, tornam-se uma medida para todas as suas crenças. Por isso, um fascista torna-se um fanático.
 E é aí que o perigo real começa.
 Pois os que conscientemente se convertem ao fascismo se tornam os mais perigosos, os mais violentos, os mais intolerantes e os mais cegos.
E o mais assustador de tudo isso é que hoje muitos já fizeram sua escolha pelo fascismo...
Contudo, acredito que vai chegar o momento em que o perigo desta ideologia vai ficar claro para todos, não haverá dúvidas sobre sua existência e influência. As pessoas irão entender o que está ocorrendo. Irão entender o que todas essas ideias significam e o perigo que representam.
Não sei se vai demorar para as pessoas acordarem para o perigo que é o crescimento do fascismo em nossa sociedade. Mas quando isso acontecer, a sociedade brasileira terá de tomar uma decisão: desmascarar essa ideologia nefasta ou conscientemente aceitá-la como o 'novo' normal.
    Se a segunda opção for a escolhida, a História tem alguns exemplos de qual será nosso destino.

Texto: Marcos Faber
www.historialivre.com
www.youtube.com/historialivre 

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Pensando História: O que é Revolução


PENSANDO HISTÓRIA: O QUE É REVOLUÇÃO

Geralmente a palavra "revolução" é empregada para se referir a algum tipo de mudança radical e profunda em uma determinada área da sociedade.

Por exemplo, quando alguns especialistas em Rock n' Roll se referem a Elvis Presley ou John Lenon afirmam que eles revolucionaram a música popular nos Estados Unidos e na Inglaterra respectivamente. Já especialistas em arte podem afirmar que Michelângelo e Van Gogh foram responsáveis por revolucionarem a pintura e as artes em suas épocas.

A partir destes exemplos pode-se constatar que a expressão revolução faz referência a uma mudança brusca e radical em alguma esfera da sociedade. Substituindo o modelo em vigor por algo totalmente novo.

Também é importante destacar que um movimento revolucionário é essencialmente vanguardista, isto é, está à frente de seu tempo. Por definição, uma revolução é anti-conservadora.

Mas será que é só isso?

Bom... minha intenção aqui não é a de analisar o conceito de revolução em sua totalidade de significados, mas a partir de seu caráter social, político e econômico.

Florestan Fernandes, um importante pensador brasileiro, afirmou que "a palavra revolução encontra empregos correntes para designar alterações contínuas ou súbitas que ocorrem na natureza ou na cultura”. E continua afirmando que “mesmo na linguagem de senso comum, sabe-se que a palavra se aplica para designar mudanças drásticas e violentas da estrutura da sociedade”, para ele uma revolução é um movimento que subverte a ordem social imperante numa determinada sociedade.

O Dicionário Houaiss afirma que revolução é um “movimento de revolta contra um poder estabelecidofeito por um número significativo de pessoas, em que geralmente se adotam métodos mais ou menos violentos.”

A partir destas considerações podemos definir revolução como um processo de transformação profunda nas estruturas políticas, sociais e/ou culturais de uma nação.

Já para Marx, “a burguesia desempenhou na História um papel revolucionário decisivo (...) onde quer que tenha chegado ao poder, ela destruiu todas as relações econômicas ali existentes”.

UM ótimo exemplo prático disto está no caso da Revolução Francesa. Pois neste país ocorreu uma insurreição armada que transformou completamente a sociedade e a política daquela nação. Pois nesta insurreição, a monarquia absolutista foi derrubada e um regime republicano foi instaurado em seu lugar.

A Revolução ocorrida na França obrigou a promulgação de uma nova Constituição em 1789. Que sabiamente foi denominada de Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, UMA carta de leis revolucionaria, pois acabava com privilégios anteriormente estabelecido, aos quais nobres e o clérigos franceses usufruíam por séculos. O povo que vivia em um sistema de servidão – literalmente “servindo” às classes altas da sociedade –, após a revolução passou a ser assistido por direitos.

Contudo, transformações revolucionárias deste porte não ocorreram só na França...

Já que outra revolução, igualmente importante... ocorreu na Rússia no ano de 1917.

Como afirmara Marx “As armas que a burguesia usou para abater o feudalismo voltam-se agora contra ela mesma”. Se o espectro revolucionário assustava a burguesia da Europa Central, por fim, ela correu na Rússia, um império periférico.

Apesar da revolução ter inspiração nas ideias de Karl Marx, ironicamente, ela não se opôs diretamente à burguesia, mas a uma monarquia sustentada fundamentalmente numa estrutura econômica feudal.

Mesmo assim, A Revolução Russa, liderada pelos bolcheviques, derrubou o czar Nicolau. E impôs o comunismo no país.

Assim, como ocorrera na França, no caso russo, não somente a monarquia foi destituída, mas o sistema econômico também foi radicalmente modificado.

Como revolução, o que diferencia estas duas insurreições é essencialmente a classe social que chegou ao poder. Se na França a burguesia alcançou o topo da sociedade, na Rússia este papel coube aos proletários, camponeses e operários.

Com tudo isso em mente, podemos concluir que uma revolução só ocorre quando existe uma transformação radical e profunda nas estruturas de uma área da sociedade... ou nela como um todo.

Afinal, para que uma mudança seja possível, em primeiro lugar, é preciso reconhecer que algo está errado e, por isso, precisa ser corrigido.

Mas é importante que fique claro que uma revolução parte de uma ideologia que se choque com o sistema em vigor... já que sem uma base teórica sobre o que se quer transformar numa sociedade, este movimento não passará de uma revolta popular (ou rebelião, como preferir).

Entretanto, também existem revoluções fora da esfera social ou política – mas que também interferem na economia e na cultura de uma nação – como é o caso das revoluções tecnológicas.

E o maior exemplo de todos foi – sem nenhuma dúvida – a Revolução Industrial inglesa do século 18, que provocou uma profunda transformação na forma de se fabricar objetos. Alterando a sociedade de tal forma que hoje não imaginamos nossas vidas sem o convívio com produtos industrializados.

Mas... e hoje... será que não estamos vivendo um momento histórico que nos exige mudanças?... Como aquelas em que as revolução francesa e russa experimentaram?

Pois ao mesmo tempo em que vivenciamos transformações radiais na tecnologia... Podemos constatar que ela não está disponível para todos.

O que se acentua com a chegada de uma pandemia de grandes proporções como a causada pelo coronavírus. Pandemia que desnudou nossa sociedade... mostrando as mazelas e diferenças sociais causadas por uma sociedade extremamente desigual – onde poucos têm muito e muitos têm pouco.

Será que este momento... hoje vivido por todos nós... não é o momento de uma transformação profunda em nossa sociedade? Ou será que alguém acha que está tudo bem? Que não existirão novas crises como a do covid-19?

Será que não está na hora de tomarmos consciência de que algo está muito errado com o mundo que conhecemos?

Por isso, deixo como reflexão citações de quatro mentes revolucionarias: Karl Marx, Martin Luther King, Carlos Lutzenberger e Jesus Cristo:

“Que as classes dominantes tremam à ideia de uma revolução. Os proletários nada têm a perder, exceto seus grilhões. Por outro lado, os trabalhadores têm o mundo a ganhar”. Karl Marx e Friedrich Engels (“Manifesto do partido comunista”, 1848).

“Eu tenho um sonho... que meus filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter” Martin Luther King (discurso “eu tenho um sonho”).

“Está claro que a espécie humana não poderá continuar por muito tempo com a sua cegueira ambiental e com sua falta de escrúpulos na exploração da Natureza”. José Carlos Lutzenberger, ambientalista.

“Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (...) “Se alguém te bater numa das faces, ofereça-lhe a outra”. Jesus Cristo (Mateus 22:39 e Lucas 6:29).