A Grenalização da
Política Brasileira
Marcos Emílio Ekman
Faber
Dia 06 de março, na Arena do Grêmio,
em Porto Alegre, ocorreu o GreNal de número 409. A partida terminou em 0 a 0.
Mas o que marcou o jogo foi um lance envolvendo jogadores de ambas as equipes.
No lance, William, do Internacional, acertou uma cotovelada no rosto do jogador
Miller Bolaños do Grêmio. Como consequência o atleta gremista teve uma dupla
fratura na mandíbula. Ficará fora dos gramados por 45 dias.
Após o lance, o atleta colorado sequer
foi advertido com cartão. Na verdade, o juiz marcou falta de Bolaños sobre
William.
Nas redes sociais torcedores gremistas
acusaram William de ser um criminoso. Que a atitude do colorado fora covarde.
Os mais exaltados defendiam a exclusão do atleta do futebol. As declarações dos
dirigentes do Grêmio endossavam tais manifestações. De “cabeça quente” declararam
que iriam processar criminalmente o jogador do Internacional.
Do outro lado, torcedores colorados
afirmavam que a lesão de Bolaños teria sido um “acidente de trabalho”, afinal o
lance tinha sido uma jogada “normal” de jogo. O presidente do Internacional, Vitorio
Piffero, chegou a afirmar que era impossível o atleta gremista ter sofrido uma
lesão tão grave num lance como aquele.
A mídia gaúcha dividiu opiniões.
Comentaristas declaradamente gremistas acusavam William de criminoso, jornalistas
colorados defendiam o atleta.
Mas e se fosse o contrário? E se
Bolaños tivesse acertado uma cotovelada em William. Sei que não existe “se” no
futebol. Mas, cabe a reflexão, afinal, as opiniões seriam as mesmas? Ou as
opiniões são orientadas pela opção clubística?
Como ouvi numa emissora de rádio “neste baile não existem virgens”.
No Rio Grande do Sul, quando as
opiniões de um torcedor (ou dirigente) são orientadas pela camisa do clube que
torce, chamamos isso de Grenalização.
Mas, mudando um pouco de assunto.
A política brasileira está tomando caminhos
muito perigosos. As manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff
estão se radicalizando.
Ontem, ouvi pelo rádio que
aproximadamente três mil manifestantes estavam no Parcão (Parque Moinhos de
Vento) em Porto Alegre. Os manifestantes gritavam “Quem não pula é comunista!
Quem não pula é comunista!”.
Confesso que não entendi para quem
eram aquelas palavras. Será que esses manifestantes acham que Dilma e Lula são
comunistas? É sério isso?
Em São Paulo, as câmeras da BandNews
flagraram pedestres serem agredidos por estarem usando camisa vermelha.
Quando a gravação do “grampo” entre
Dilma e Lula foi noticiado, eu estava em sala de aula. Coincidentemente
estávamos debatendo o conceito de liberdade. Eu e meus alunos ouvimos buzinas,
gritos e fogos de artifício. Um aluno engraçadinho logo gritou “Gol do Grêmio”
outro disse “Alguém tá fazendo batuque (candomblé)”, caímos na risada.
Aproveitei o “gancho” para afirmar “seja o que for, apenas demonstra que todos
nós temos a liberdade de expressarmos aquilo que acreditamos”. E continuei com
a aula.
No intervalo fiquei sabendo que a
“comemoração” ocorrera por causa da divulgação da gravação telefônica.
Dia desses um amigo meu me chamou de
comunista. Antes que se perguntem, eu respondo: Não, eu não estava falando de Che
Guevara. Não, eu não estava defendendo Cuba. Eu apenas afirmei que tínhamos que
ter muito cuidado em apoiar um Golpe de Estado como este que está sendo
preparado no Brasil.
Pronto, era o suficiente. Pois no
entendimento deste meu amigo, eu me tornara um defensor do PT, de Lula, de
Dilma e do comunismo.
Será
que eu não posso pensar diferente dele?
O que o fez pensar que eu sou comunista? Me parece bastante óbvio que ele (e os manifestantes do Parcão) não fazem a menor ideia do que é o comunismo.
O que o fez pensar que eu sou comunista? Me parece bastante óbvio que ele (e os manifestantes do Parcão) não fazem a menor ideia do que é o comunismo.
Mas não se preocupem, eu não vou
explicar o que é o comunismo. Entretanto, posso afirmar que eu não sou
comunista e também não sou petista. Apenas penso diferente de algumas pessoas.
Mas também posso afirmar que o PT não
é e nunca foi comunista. No máximo é de centro-esquerda.
Mas basta não ser anti-petista ou não
ser favorável ao impeachment para ser taxado como “comunista”, “petista” ou,
pior ainda, de “petralha”.
Para piorar do outro lado ocorre a
mesma coisa.
Não ouvi de nenhum dos lados uma
solução para o que está ocorrendo. Os governistas acusam a oposição de
golpista. Do outro lado, a oposição não apresenta planos para o futuro do
Brasil. Em nenhum momento surgiu alguém disposto a solucionar a crise, apenas
para aumenta-la.
No meu entendimento o que está
ocorrendo é uma grenalização da política brasileira. Não há mais racionalidade.
Não existe mais reflexão. As pessoas estão defendo seu clube/partido independente
do que for certo ou errado.
Nenhum dos lados em disputa parece
preocupado com o que será do Brasil. Um quer continuar no poder, o outro quer o
poder. Se de um lado existem réus de corrupção do outro não é diferente. Pois
alguém acredita na inocência de PSDB, PP, DEM, Rede Globo e Revista Veja?
“Neste baile não existem virgens”.
Tanto que o juiz Itagiba Catta Preta
Neto (envolvido nos processos contra Lula) postou no facebook: “Ajude a
derrubar Dilma e volte a viajar para Miami e Orlando”.
Se entendi bem, “Quem não pula é comunista" e "quem pula vai pra Miami”.
É isso?
Se não pensarmos racionalmente
repetiremos os mesmos erros de 1937, 1954, 1964, 1989...
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