QUEM
É O DEUS DE BOLSONARO?
Neil Gaiman, famoso criador
da graphic novel Sandman (que recentemente foi adaptada para as telinhas,
pela Netflix), também é o autor do aclamado livro “Deuses Americanos” (American
Gods, que no Brasil foi publicado pela editora Intrínseca) curiosamente
“Deuses Americanos” também foi adaptada para série de TV pelo Amazon Prime.
Na obra, o autor cria uma
rica história fundamentada numa miscelânia de diversas mitologias religiosas.
Dos povos babilônicos da Antiguidade até os modernos deuses da “tecnologia” do
mundo atual.
Em “Deuses Americanos”, cada
povo que migrou para a América trouxe na “bagagem” o seu culto religioso, carregando
consigo também uma versão da divindade cultuada. Porém, o “deus original” ficou
na sua região natal, o que veio para a América, foi uma espécie de cópia xerox dele.
Desta forma, a divindade precisou se adaptar a diferente realidade da nova
terra. Entretanto, ele gradualmente passou a assumir valores de seu cultuador e
também da região onde se estabeleceu, ocorrendo uma espécie de sincretismo
religioso.
Com isso, na América, passou
a existir várias versões do mesmo deus – cada grupo de migrantes tendo trazido
consigo a sua própria versão da divindade cultuada. Por exemplo, na série da
Amazon, existe um momento em que os protagonistas chegam a um lugar onde há
várias versões diferentes de Jesus Cristo, uma para cada denominação do
cristianismo. Os protagonistas confusos, se deparam com uma versão sofredora de
Jesus representada por aquelas que assim o entendem, como é o caso de parte dos
católicos ou dos cristãos filipinos. Mas também se encontraram com versões
alegres e radiantes de Cristo. Assim, como outras versões latinas, negras e de
diferentes matizes caucasianas do Salvador.
Mas que fique claro, na
obra, nenhuma daquelas versões é realmente Cristo, mas versões criadas por cada
um dos diferentes cultos que adoram o Messias cristão e, claro, adaptadas a
nova pátria em que estão inseridos.
A importância desta
abordagem, é que Gaiman nos faz refletir... Pois será que quando alguém fala de
sua fé e do deus ao qual serve... Ele está falando da verdadeira divindade? Ou
de uma versão adaptada de acordo com a sua própria “interpretação” desse deus e
de como ele deve se comportar?
...
Gaiman me fez lembrar de uma
história... não sei se é uma história real (sabe como são essas “histórias” da
internet), mas que tem muito a ver com o que aparece em “Deuses Americanos”:
Essa história diz que quando
Ronald Reagan era o presidente dos Estados Unidos (lá nos anos 80), ele mandou
pendurar um quadro de John Wayne segurando um colt peacemaker na mão
direita, ao fundo, índios caídos mortos. Segundo essa história (que rola pela
internet), sempre que precisava tomar uma decisão importante, Reagan parava
alguns minutos de frente para a pintura.
Lembre-se, ou caso não
saiba, antes de ser presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan teve uma
extensa carreira de ator tendo protagonizado muitos westerns.
Será que Wayne era como um
deus para Ronald Reagan? Acredito que não, mas a adoração e o culto comprovadamente
existiam. Mesmo que essa história possa não ser real, é conhecido que o
ex-presidente americano era um grande e fervoroso admirador de John Wayne.
O culto de Reagan... me faz pensar
sobre a relação religiosa de Jair Bolsonaro. Afinal, quem é o deus que
Bolsonaro diz cultuar?
Afinal, Bolsonaro consegue
num mesmo pronunciamento se dizer um protetor da família e ofender pessoas.
Fala em “Deus, pátria e família” e ironiza as pessoas vítimas do Covid-19,
imitando uma pessoa sufocando por falta de respiradores. Consegue defender o
uso de armas de fogo e da pena de morte, mas ser contra o aborto ou pouco se
importar para o aumento no número de feminicídios, que, em sua maioria, ocorrem
com o marido assassinando a própria esposa.
Da mesma forma, o presidente
criminaliza movimentos sociais (como MST, Sindicatos e ONGs), acrescentando a
isso que o governante ainda espalha fake News sobre minorias. Atitudes que em
nada combinam como ele se afirmar como cristão, uma religião fundamentada no
perdão e no amor ao próximo. Que cristianismo é esse que Bolsonaro diz seguir?
Será que ele crê num deus
castigador e vingativo, como aquele cowboy representado por John Wayne e os
cadáveres de índios caídos no chão (lá da parede de Reagan)?
Será que o deus de Bolsonaro
é, como aqueles de “Deuses Americanos”, isto é, uma cópia imperfeita da real
divindade.
Não duvido da fé de
Bolsonaro!
Mas questiono, quem é o deus
que ele diz seguir!
Me parece, que na
“interpretação” bolsonarista, deus usa uma arma na cintura (assim como no quadro que
Reagan tinha na parede).
Segundo as próprias palavras e ações de Bolsonaro, podemos concluir que o deus que ele cultua e
a fé que ele tem, não se fundamentam no amor ao próximo (como prega a mensagem cristã). Na verdade, a divindade dele
parece ser uma criatura raivosa e vingativa... e que, com toda certeza, não é o
mesmo Deus descrito na Bíblia.
Lembre-se disso em 02 de outubro, o dia da eleição.