No inicio dos anos 1980, Florestan
Fernandes publicou um pequeno livro, pela editora Brasiliense, chamado O que é Revolução. Apesar de todo o
tempo que se passou desde então, o livro continua sendo uma referência sobre o
tema. Nele, Florestan escreveu que "a palavra revolução encontra empregos
correntes para designar alterações contínuas ou súbitas que ocorrem na natureza
ou na cultura. No essencial, porém, há pouca confusão quanto ao seu significado
central: mesmo na linguagem de senso comum, sabe-se que a palavra se aplica
para designar mudanças drásticas e violentas da estrutura da sociedade. Daí o
contraste frequente de “mudança gradual” e “mudança revolucionária” que
sublinha o teor da revolução como uma mudança que “mexe nas estruturas”, que
subverte a ordem social imperante na sociedade".
Ainda, segundo o autor, "há uma
tendência a tornar a revolução um fato “mítico” e “heroico”, ao mesmo tempo individualizado e romântico. Várias tradições convergem no sentido de anular o papel
por assim dizer de suporte e instrumental das massas e salientar as figuras
centrais, por vezes as “figuras heroicas e decisivas”. A burguesia cedeu a
essas tradições e fomentou-as, a tal ponto que sua historiografia, mesmo quando
busca os fatores externos, concentra-se no “culto aos heróis” e dá relevo aos
papéis criadores dos “grandes homens”. A historiografia marxista nunca anulou a
importância da personalidade nos processos históricos. O que distingue o
marxismo, a esse respeito, é a tentativa de compreender a revolução como um
fenômeno sociológico de classe".
Assim, revolução é um processo de transformação profunda das estruturas
políticas e sociais de uma nação. A partir desta definição podemos refletir se
a Revolução Farroupilha foi realmente uma revolução ou apenas uma rebelião
regencial, como tantas outras que ocorreram, neste mesmo período, em outras
regiões do Brasil.
Para isso, precisamos analisar sobre quais foram os
motivos originais deste levante armado.
Em primeiro lugar, os lideres farroupilhas (membros
da oligarquia gaúcha) eram grandes estancieiros que desejam ampliar seus
lucros. Para isso, eles exigiam a redução dos impostos sobre o charque,
principal produto gaúcho da época. Em segundo lugar, em nenhum momento os
líderes farroupilhas desejavam profundas transformações na política ou na
sociedade escravocrata
local.
Entretanto, conforme a luta armada se prolongava,
os líderes farroupilhas passaram a adotar medidas que realmente levaram o
movimento em direção de se tornar numa revolução. Aboliram a escravidão dos que
se alistassem no exército farrapo e proclamaram a República Rio-Grandense
(lembre-se que, nesta época, o Brasil era uma monarquia).
Assim, se a insurreição gaúcha de 1835 iniciou como
um levante oligárquico elitizado, logo se tornou uma revolução armada. Porém,
como sabemos, terminou com a assinatura do Tratado de Ponche Verde (1845) que
aboliu muitas das conquistas revolucionárias dos farrapos.